Morte do Infante D. Fernando, o “Infante Santo”
D. Fernando era o filho mais novo do rei D. João I e, portanto, irmão dos infantes D. Henrique, D. Pedro e D. Duarte. A história da sua morte constitui um dos episódios mais conhecidos da História de Portugal do século XV e deu origem a toda uma mitificação popular e de teor nacionalista, destinada a enaltecer a sua figura e a dos seus irmãos e a envolver os respetivos atos e decisões de um certo teor místico.
Em breves palavras, D. Fernando ficou como refém após o cerco do exército português que desembarcou em Marrocos com o objetivo de tomar a cidade de Tânger, em 1436.
Os marroquinos permitiram que os portugueses reembarcassem, mas com a condição de devolver Ceuta, que tinha sido tomada em 1415. Essa condição nunca foi satisfeita e D. Fernando acabou por morrer na prisão em Fez, a 5 de junho de 1443.
O seu corpo foi mais tarde resgatado e sepultado no Mosteiro da Batalha, dando origem a uma devoção popular, que o chamou de “Infante Santo” e considerou os seus restos mortais como relíquias. No entanto, nunca foi beatificado ou canonizado pela Igreja, que chegou mesmo a proibir o seu culto.
- Por que razão nunca foi resgatado?
A morte de D. Fernando e os motivos que levaram ao incumprimento do acordo feito com as autoridades marroquinas deram origem a várias teses e interpretações. Há quem afirme que Ceuta era uma posição demasiado importante para ser perdida e quem acuse o rei D. Duarte e o Infante D. Henrique de frieza e de indecisão.
Um companheiro de prisão de D. Fernando afirmou que o próprio preferiu morrer a ser trocado por Ceuta, o que naturalmente amplificou a lenda do “Infante Santo” e do martírio. Porém, a verdade é que os portugueses estabeleceram negociações com o rei de Marrocos, com vista ao cumprimento do acordo, embora de forma lenta e hesitante.
Já depois da morte do rei D. Duarte, em 1438, a decisão foi finalmente tomada e partiu de Lisboa uma embaixada com destino a Ceuta para tratar dos pormenores da entrega, em troca do Infante cativo. Porém, o navio foi atacado por piratas genoveses ao largo do Cabo de S. Vicente, causando a morte do embaixador. Este acidente inesperado atrasou de novo as negociações, e entretanto chegaram as notícias da morte do Infante em cativeiro.
- Teve efeitos ou consequências?
Como se viu, a morte do Infante D. Fernando deu origem a um culto popular e a sua história foi mais tarde utilizada como forma de mitificação da expansão portuguesa e dos projetos do Infante D. Henrique. No entanto, D. Fernando morreu em Marrocos e a expansão portuguesa nesta região declinou rapidamente, após os impulsos durante os reinados de D. Afonso V e de D. João II.
Os novos rumos, que viriam a transformar os chamados “Descobrimentos Portugueses” num empreendimento de dimensão planetária, já nada tiveram a ver com o projeto tipicamente medieval em que D. Fernando esteve envolvido.
Tratou-se, portanto, de um percalço militar de desfecho infeliz, a que se seguiu um processo diplomático mal conduzido e mal afortunado, no qual o jovem D. Fernando, com pouco mais de 30 anos, acabou por ser a principal vítima."...
Sem comentários:
Enviar um comentário