PORQUE...
...esta noite de Agora passa rente a todas as de Outrora
e eu corro por dentro delas sem poder repetir uma que seja...
e porque
todas as Noites são contíguas como se fossem uma apenas,
fechada entre o sol-posto e o alvorecer...
...porque entro nela a ouvir os passos que à minha frente
ferem o silêncio
da Lua,
nas luzes estreladas
de entidades cínicas e dementes, que me recuso a ver...
...porque em Jerusalém as oliveiras verdes se cobrem
de poeiras de sangue
de pequenos deuses
que ousam resistir a
DEUS e subsistir através de modernas “intifadas”...
...porque a Índia foi o Outrora de um povo de Ontem e de
Agora,
a nascer na alma que,
paulatinamente,
se perdeu em águas-de-sepultar-
-ilusões de famas, vitórias,glórias e odores...
(porque eu não tenho nas mãos mais que um papel a cheirar
a água de coco
na distância entre o
que todos disseram
de tudo
o que não pude ouvir)
...porque houve predestinadas ilhas encantadas
com pacíficos palmares dos índicos oceanos,
e porque, nos versos de CAMÕES há esboços de caravelas em
cruzamento de híbridas águas
na ambiguidade dos
“porquês” da VIDA.
Os tempos deram-me tantos cadernos, folhas e folhas e folhas
onde desenhei
palavras exóticas de
aves orientais com bicos e penas
cor de canela,
de jade e
jasmim, pedras e corais-aroma-jasmim.
...porque os espelhos congelados nos tempos nunca
dormem-----rica vida----
e escondem as verdades nas mentiras-de-sempre!
...porque os Pontos Cardeais me enganaram e querem que vá
pelas nuvens,
pelos charcos, pelas estradas dolorosas, onde não sei
existir------
esta noite de AGORA passa rente a todas as de OUTRORA.
©Maria Elisa Ribeiro
TODOS os direitos reservados
FEV/2021
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