quinta-feira, 30 de setembro de 2021

PoEMA meu

 

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Homenagem a Miguel Torga
In memoriam


São Martinho de Anta acorda! Chega o poeta
e tudo se move: a terra, o ar, a água e o fogo.
A alegria do seu retorno provoca a desorientação
discreta da “Mãe -natureza.
Riem torgas, urzes, rosmaninhos, pelos montes!
Ruge o vento ao bater nas pontes;
inclinam-se as fragas em sentida emoção;
cantam as fontes no perene correr das suas águas,
em sinal de saudação.
A Natureza revive pela força da presença do homem,
com ela sempre em união!
A Terra-mãe, ventre profícuo da semente escondida,
promete searas vivas, plenas, pujantes,
na serena convicção de que é assim, sem medida,
que agrada ao poeta, que ali arriba!
Vergam-se as árvores, prenhes de fruto,
À passagem desta personagem de vulto
Que faz despontar a “vida - terra”…
Que poder tens tu, homem de São Martinho,
Que tal caos provocas,
na “ terra - pó”, onde tens teu ninho ?
Os teus pés pisam vinhedos do Douro,
desencantando velhos segredos do “ ar -mosto”,
que suspiras, respirando…
As tuas mãos, misterioso elemento da criação do teu mundo,
legam-nos, no ar do teu pensamento profundo,
todos os “nadas” que são, afinal, “tudos”…
Parece fugir-te o Mar,
que deu vida à vida do teu rectângulo sofrido!
Nas claras águas do Mondego revive a tua memória
sem medo; tempos de saber…de poesia e de segredo!
Abrasam-te ares do Norte , com a força da lareira a arder…
Vive, poeta! Vive ainda e sempre, em nós,
pela “ obra -terra”que nos legaste,
em momentos de vivo confronto, a sós,
com Aquele que nunca encontraste!
Que presença tão constante advém da tua aura!
Se fujo, tu vens comigo, (dura ilusão!) dando-me
a força telúrica de quem não abandona,
nunca! - a “ terra -mãe“, que se ama até à loucura,
por ser ela ,para sempre, o berço da Procura.
Contigo, na neblina do doce cheiro do orvalho
das manhãs, permite que comungue da sensação
da pureza dos elementos…
Quando me estendes a mão, encontro, por fim e então,
a fonte dos meus alimentos:
terra, ar, fogo e água!
E, sem mágoa, as torgas rejuvenescem,
os ares purificam,
o fogo são vivifica,
as águas ressuscitam…
e um véu divino estende-se por toda a montanha
onde teu povo habita!
SET/08
Maria Elisa Ribeiro


ESTA AUTORA não escreve em Português do chamado "ACORDO"

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