segunda-feira, 29 de maio de 2023

Gomes Eanes de Zurara

 In Wikipédia: Gomes Eanes de Zurara

Biografia
Efígie de Gomes Eanes de Zurara no Padrão dos Descobrimentos, em Lisboa, Portugal.
Cerca de 1440, ele teve acesso à corte por conta de sua proximidade ao referido Fernão Lopes e a Mateus de Pisano – humanista italiano que foi preceptor de D. Afonso V[1].
Em 1449, Zurara recebeu uma encomenda do monarca D. Afonso V e começou a escrever sua primeira crónica[1].
Em 1451, foi nomeado guarda-conservador da Livraria Real e, em 1454, substituiu Fernão Lopes (1385-1459) como guarda-mor da Torre do Tombo e cronista régio[1]. Alguns autores esguardam esta substituição, como tendo sido politicamente motivada, dadas as afeições politicas de Fernão Lopes que, depois da Batalha da Alfarrobeira, deixaram de ser as dominantes.[2] [3]
Zurara também foi agraciado com o título de cavaleiro e comendador da Ordem de Cristo por D. Henrique – governador desta ordem militar de 1420 até 1460 –, além de ser cavaleiro da casa do próprio rei D. Afonso V, mesmo que o seu nome não conste dentre o rol dos moradores do paço real[1].
Deslocou-se, em 1467, a Alcácer Ceguer, com o fim de completar a sua crónica do conde D. Duarte de Meneses. Nas suas crónicas, sem deixar de ser probo, fixa-se na apreciação das grandes figuras, espelhando heroísmo e feitos paradigmáticos, exaltando o valor das épicas personagens de que se ocupa.
Nos seus escritos, reflectindo o ambiente subsequente ao encontro de Alfarrobeira, Zurara está para o seu antecessor, Fernão Lopes, como a crónica dos heróis estará para a crónica de um povo.
Há, em Mangualde, uma escola muito conhecida, nomeada em sua honra: a Escola Básica do 2.ºe 3.º Ciclo Gomes Eanes de Azurara[4].
Obra
1450 - "Cronica del Rei D. Joam I de boa memória. Terceira parte em que se contam a Tomada de Ceuta" (Lisboa, 1644)
1453 - "Cronica do Descobrimento e Conquista da Guiné", também chamada «Crónica dos Feitos da Guiné» (Paris, 1841)
1463 - "Cronica do Conde D. Pedro de Menezes" (in: Inéditos de Historia Portugueza, vol. II. Lisboa, 1792)
1468 - "Cronica do Conde D. Duarte de Menezes" (in: Inéditos de Historia Portugueza, vol. III. Lisboa, 1793)
Crónica dos Feitos da Guiné
A Crónica dos feitos da Guiné de Zurara é a primacial fonte histórica, que sustenta a concepção moderna que se urde do Infante D. Henrique e do período do henriquino dos Descobrimentos, compreendido entre 1434 e 1448. A obra foi encomendada pelo próprio Infante D. Henrique, [5] pelo que lhe é sobremaneira lisonjeira, o que não inspira grandes visos de imparcialidade, aos olhos dos historiadores modernos. [6] Não obstante, à mingua de outras fontes históricas disponíveis, a obra de Zurara continua a ser tanto objecto de estudo, como sustentáculo de fundamentação de muito historiadores modernos.[7]
Zurara terá feito menção de se ter baseado nos relatos das expedições constantes de um manuscrito compilado por um suposto «António Cerveira»[8], no entanto, nunca foi encontrado nenhum exemplar desse relato original[9]. Com efeito, até à publicação da «Primeira Década da Ásia», de João de Barros, em 1552, não havia quaisquer obras publicadas a respeito dos descobrimentos henriquinos, salvo dois livros de memórias, redigidos por Alvise Cadamosto (publicados inicialmente em Itália em 1507)[10][11][12].
João de Barros afirmou ter exarado a sua obra de 1552, baseando-se numa cópia do manuscrito das crónicas de Zurara, que encontrara, avulso, nos arquivos. Porém, pouco mais de uma década depois, Damião de Góis (em 1567), deu conta do desaparecimento do manuscrito das crónicas de Zurara. [13]
Seguiu-se uma caça à cópia desse manuscrito, que saiu gorada. O clérigo espanhol Bartolomé de las Casas, na década de 40 do século XVI, terá dado a entender que deteria uma cópia das crónicas de Zurara, contudo, nunca se chegou a aferir se isso seria verdade. [14]
Frontispício da Crónica dos Feitos de Guiné (códice de Paris)
Foi só em 1839 que se descobriu uma cópia intacta e em formidável estado de conservação das crónicas de Zurara, acantonadas na Real Biblioteca de Paris (hodiernamente Bibliothèque nationale de France), mercê dos esforços de Ferdinand Denis. É de assinalar que, nesta cópia descoberta em Páris (crismada o “códice de Paris”), está incluído um frontispício com o retrato de um homem de bigode ralo, de chapeirão borgonhês encasquetado, que se presumiu de imediato tratar-se do Infante D. Henrique (máxime tendo em conta que, até então, ainda não se havia identificado qualquer representação gráfica do Infante).[15]
Luís António de Abreu e Lima (Visconde de Carreira) fora indigitado, pela coroa portuguesa, como enviado extraordinário, para representar o reino português em França, nesta altura. Luís de Abreu e Lima terá, então, diligenciado pela primeira publicação da crónica de Zurara, já em 1841, prefaciada e anotada por Manuel Francisco de Macedo Leitão e Carvalhosa (Visconde de Santarém).[16][17]
A publicação obteve muito significativa tiragem de vendas, nacionais e internacionais, especialmente tendo em conta que, à data, os atritos diplomáticos entretidos por Portugal, França e Inglaterra, em relação à ocupação dos territórios da África Ocidental, eram muito badalados, tendo vindo em 1885 a culminar na realização da conferência de Berlim. O visconde de Santarém ter-se-á valido da obra para justificar o precedente histórico da presença portuguesa nesses territórios em África. [18]
Uma segunda cópia do manuscrito foi descoberta pouco depois, em 1845, por J.A. Schmeller na Biblioteca Estatal da Baviera, em Munique, incluída num acervo de relatos sortidos de expedições portuguesas, compilado em 1508 pelo tipografo alemão Valentinus Moravus (conhecido em Portugal sob o nome de Valentim Fernandes), que se teria fixado em Lisboa. No entanto, esta versão encontrava-se eivada de excertos truncados. [19]
Pode ser uma imagem de 1 pessoa e texto

Sem comentários:

Enviar um comentário