DEIXA-ME SAIR DO PAPEL
Não te deites comigo, no meu silêncio…
Acorda-me, quando a noite chegada me guarda
adormecida no seu seio
e te aborda com
aqueles pés de lã
que não reconhecem o vibrar das letras de um poema.
No meu sono
sinto uma poesia de
amor-no-sonho-da-poesia-que-sou
no dia após-dia- do mundo solar,
herdado da dimensão inatingível de mãos tão antigas como as
da noite…
…como as do vento ciumento…
…como a dos tempos Passados-no-Presente-deste-Futuro de
Agora!
Acorda-me deste sono onde,
em onírico deleite,
sinto tuas mãos macias e ofegantes
a saltitar pelo
corpo, como insecto voador que quer amar uma flor!
Deixa que saia do papel amarelecido e mergulhe as mãos no
mar de
letras, sílabas, consoantes e vogais, reticências e pontos
finais
que se encontram num lago de tons claros, dourado pelas estrelas
radiantes
perdidas na tua harmonia…
Permite que o meu poema não dependa de outra moral ,
que não seja a verdade das tuas mãos delirantes…
E nem permitas que as rosas vermelhas da noite,
saibam a cor do teu
aroma natural…
…ou que o orvalho telúrico te afaste para outra guerra…
…ou, ainda, que outras flores desfolhem as tuas pétalas
do amanhecer, quando tudo o que saltita voa à procura de
mel…
Se pudesse beber o fragor do teu amanhecer,
diria ao Sol ,
que te escondi numa torre de marfim
a cheirar a jasmim,
onde me vou fechar
contigo-em-mim…
FEV/018
Maria Elisa Ribeiro
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