"As minhas palavras têm memórias ____________das palavras com que me penso, e é sempre tenso _________o momento do mistério inquietante de me escrever"
terça-feira, 20 de outubro de 2015
Os refugiados e os sem-abrigo, em LISBOA
CRISE DOS REFUGIADOS
Sem-abrigo de Lisboa compreendem apoio a refugiados e reclamam ajuda semelhante
19/10/2015, 10:3111.181 PARTILHAS
Apesar de compreenderem que o Estado preste apoio aos refugiados, as pessoas sem-abrigo de Lisboa dizem que o Governo não se pode esquecer delas.
LUÍS FORRA/LUSA
Autor
Agência Lusa
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A viverem pelas ruas da cidade de Lisboa, algumas pessoas em situação de sem-abrigo disseram à Lusa que compreendem o apoio de Portugal no acolhimento de refugiados, mas queixam-se de não terem ajuda semelhante por parte do Governo. Portugal está “praticamente” pronto para acolher 4.500 refugiados, segundo o primeiro-ministro, Pedro Passos Coelho, e várias instituições sociais e municípios têm-se mobilizado para ajudar. Porém, há também quem se tenha manifestado contra a entrada de refugiados, tendo como mote “Cuidar dos Nossos Primeiro” e dando como exemplo a situação dos sem-abrigo.
A dormir pelas ruas de Lisboa, José Manuel Saraiva, de 53 anos, mostrou-se solidário com o acolhimento aos refugiados, por considerar que é uma situação “muito pior” comparada à condição de sem-abrigo. “Não me afeta que o Estado ajude. Prefiro que não me ajudem a mim e que os ajudem a eles”, afirmou à Lusa este lisboeta, sem-abrigo há cerca de seis anos, acreditando que o apoio aos refugiados “será uma situação pontual”.
Para José Manuel Saraiva, o caso dos refugiados é complicado por virem de países em guerra, explicando que “é muito difícil ver imagens de crianças e outras pessoas a morrerem todos os dias”. José Manuel Saraiva tinha uma vida estável pessoal e profissionalmente, mas quando se divorciou viu-se sem rumo, deixou o emprego e foi viver para a rua. Reconhece o erro de ter optado pelo caminho “mais fácil, o andar para a frente talvez é mais difícil”.
“A pessoa depois habitua-se também a ficar nesta situação e pouco faz para sair dela”, admitiu, criticando o facto de nunca ter recebido qualquer subsídio ou apoio do Estado.
Há mais de uma década que Fernando Domingues, de 62 anos, vive na rua, após ter ficado desempregado e nunca mais ter conseguido arranjar emprego, contou. Costuma abrigar-se junto à igreja de Arroios, em Lisboa, onde recebe o apoio das carrinhas das instituições que distribuem alimentação. Questionado sobre o acolhimento de refugiados em Portugal, Fernando Domingues disse não estar contra, mas lamentou o facto de os sem-abrigo não terem apoios semelhantes. “Os refugiados são acolhidos, dão-lhes casa. Aos sem-abrigo não dão nada”, lamentou, reivindicando que “o que se faz a uns, se faça a outros”.
José Rebelo, de 47 anos, e a companheira Arminda Rocha, de 50, pernoitam nas ruas da capital há cerca de três anos, devido à “falta de dinheiro, falta de trabalho e dependência de álcool”. Atualmente, o casal está inserido num programa de combate ao alcoolismo, pois pretende “reiniciar outra vez, de uma forma diferente”, disse José Rebelo, acrescentando esperar a atribuição de uma casa social.
José Rebelo deixa ainda um desabafo que não esconde uma mágoa: “é injusto para quem é português” que os refugiados tenham “direito a tudo e mais alguma coisa”. “Não estou contra os refugiados que fogem dos países deles à procura de uma vida melhor”, defendeu, considerando, no entanto, que “o Governo português havia de investir mais no apoio à população portuguesa”.
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