sexta-feira, 30 de outubro de 2015

TEXTO DE "YRONIKAMENTE"



«Cavaco Silva nunca perdeu nada, nas contas dele, excepto uma vez. Depois da morte de Sá Carneiro, foi convidado para continuar nas Finanças, tendo recusado participar num Governo a prazo (as relações entre ele e Rebelo de Sousa estarão marcadas por esse período e seria preciso recordar em que sentido). Em 1985, seguiu vitorioso para o Congresso do PSD, abrindo-se as portas para 10 anos de governo. Em 1995, não concorreu às legislativas, para não as perder. Mas perdeu no ano seguinte, precisamente, para a maioria de esquerda que levou Jorge Sampaio à presidência. Cavaco Silva não vai perder outra vez para uma maioria de esquerda. Tem de se vingar da História. E, isolado, cansado e sem ideias foi buscar os radicais, aqueles que não esquecem o passado e que até gostam de o reinventar. Ninguém comenta muito, mas esta coisa de formar um Governo que já se sabe que vai ser chumbado - se fosse mesmo só para isso - é uma fantochada, é uma brincadeira com a democracia. Sim, a Coligação ganhou, sim devia ser chamada, e sim deveria recusar o convite, por saber que será chumbada. Mas não o fez. Porquê? Será que o Governo de amanhã é um governo de 15 dias? Ou não será um governo de combate contra a Assembleia da República? A esquerda está calada agora porque não quer entrar numa luta perdedora com o Presidente e faz bem, e a direita amiga calada está porque, sabendo ou não sabendo o que vai acontecer, pressente que vai sobrar para ela. E o que irá acontecer, que faça sentido com isto tudo? Um golpe de chantagem, com estes contornos: Cavaco dirá amanhã que ou PS se entende com o PSD e o CDS para formar um novo governo, ou deixa o actual Governo em gestão. Assim, a culpa desse odiado governo de gestão será dos "partidos". Às vezes parecem estranhas as notas contra um governo desses vindas de alguns quadrantes e assim se explicariam. O PS fica com o ónus da instabilidade, "por não se querer entender", e será atacado por todos os lados para chegar enfraquecido às eleições antecipadas que o golpe quer fazer. Marcelo Rebelo de Sousa (o rival?) que resolva o assunto depois. Os comentadores do regime serão em breve convocados para conhecerem as variantes do mantra de que "a culpa de termos um governo de gestão é do PS, por não ser querer entender." A imprensa estrangeira falou de golpe, foi entretanto desmentida por quem não terá ainda percebido o alcance antidemocrático de Cavaco, mas ainda vai ter razão novamente. Será que o que sobra do PSD vai embarcar nesta história, se ela se vier a desenrolar? É triste ter de pensar nestes termos, mas é o que dá quando se calçam as botas de gosto antidemocrático. O bom é que só se consegue vencer a democracia com ditadura e, felizmente, por causa da Europa - e da mal reconhecida tradição democrática portuguesa -, não estão tempos para ela. Com todas estas manobras, entretanto, uma coisa já foi ganha: a austeridade acabou de facto. É só mesmo luta pelo poder. Oxalá esteja redondamente enganado. Entretanto, espera-se que haja quem esteja de sobreaviso.»

http://pedrolains.typepad.com/…/vem-a%C3%AD-a-chantagem.html

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