quinta-feira, 21 de março de 2024

Quem foi Carolina Michaelis

 

Carolina Michaëlis

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Carolina Michaëlis
Nome completoCarolina Wilhelma Michaëlis de Vasconcelos
Nascimento15 de março de 1851
BerlimPrússia
Morte22 de outubro de 1925 (74 anos)
PortoPortugal
Nacionalidadeprussianaportuguesa
CônjugeJoaquim António da Fonseca de Vasconcelos (1876)
Ocupaçãocrítica literáriaescritoralexicógrafa e professora universitária

Carolina Wilhelma Michaëlis de Vasconcelos OSE (Berlim15 de março de 1851 – Porto16 de novembro de 1925) foi uma crítica literáriaescritoralexicógrafa e professora universitária, tendo sido a primeira mulher a leccionar numa universidade portuguesa, na Universidade de Coimbra, e uma das duas primeiras a entrar na Academia das Ciências. Teve igualmente grande importância como mediadora entre a cultura portuguesa e a cultura alemã.[1][2]

Biografia

Nascimento e Família

Retrato de Carolina Michäelis de Vasconcelos (1867). Fotografia de Karl Zimmernan

Nascida em BerlimPrússia, na época parte da Confederação Germânica, a 15 de março de 1851Carolina Wilhelma Michaëlis era filha do professor liceal de matemática e, mais tarde na universidade de fonética e estenografiaGustav Michaëlis e de Henriette Louise Lobeck.[3] Era a mais nova dos cinco filhos do casal, sendo irmã da lexicógrafa e autora dos primeiros dicionários MichaelisHenriette Michaëlis.

Primeiros anos

Desde muito cedo demonstrou ter uma rara aptidão e gosto pelas línguas e literatura germânicaeslava e latina, tendo ingressado com 7 anos no colégio feminino municipal Luisenschule já a saber ler e escrever.[4][5] Aos 12 anos de idade tornou-se órfã de mãe, passando a ser educada pelo pai Gustav Michaelis e tutelada pelo filólogo Eduard Matzner, diretor do colégio feminino que frequentou dos 7 aos 16 anos, e o romancista e amigo da família Carl Goldbeck, que a orientou em casa, dos 16 aos 25 anos, porque o ensino superior era exclusivo do sexo masculino.[4] Estudou filologia clássica e românica, para além de literatura greco-romana, francesa, espanhola e italiana, entre outras.

Em 1867, com apenas 16 anos de idade, Carolina começou a publicar em revistas alemãs da especialidade e, com 20 anos, já trabalhava como tradutora e intérprete para os assuntos da Península Ibérica, no Ministério do Interior alemão, assim como colaborara nas enciclopédias de Brockhaus e Meyer e em várias revistas e periódicos internacionais, como a Bibliografia Crítica de História e Literatura, dirigida por Francisco Adolfo Coelho.

D. Carolina Michaëlis de Vasconcellos com seus netos mais velhos, Manuel e Joaquim Ernesto (1911). Fotografia de Magalhães e C.ª, Porto.

Casamento

Em 1876, durante a sua colaboração luso-germânica e após o polémico caso da "Questão do Fausto", na qual foi bastante criticada a versão traduzida da obra Fausto, de Goëthe, feita por António Feliciano de Castilho, Carolina conheceu Joaquim António da Fonseca de Vasconcelosmusicólogo e historiador de arte português. Com ele, iniciou uma longa correspondência de cartas que, em pouco tempo, se transformou num fervoroso namoro à distância. Ficou conhecido o episódio em que Joaquim António de Vasconcelos, arrebatado e decidido em ir ao encontro da sua amada, em plena terceira guerra carlista, à falta de comboios, decidiu atravessar os Pirenéus a cavalo. Nesse mesmo ano, os dois casaram-se em Berlim e foi dada a dupla cidadania a Carolina.[6]

Após o casamento, o casal mudou-se para Portugal, dividindo o seu tempo entre a localidade de Vasconcelos, no distrito de Braga, e as cidades de Lisboa e Porto, para além da sua casa de férias em Águas Santas.[7] Apesar de ter dedicado esses primeiros anos à sua vida familiar, Carolina Michaëlis de Vasconcelos nunca deixou os estudos e investigações, e em 1877, durante os primeiros meses de gravidez, era frequente vê-la passar as tardes na biblioteca do Palácio Nacional da Ajuda, em Lisboa, a recolher dados sobre a língua e a literatura do folclore português, especialmente do período arcaico. Pouco depois tornou-se sócia honorária do Instituto de Línguas Vivas de Berlim e, em dezembro desse mesmo ano, nasceu o seu primeiro e único filho, Carlos Joaquim Michaëlis de Vasconcelos.[8][9]

Investigação literária e carreira profissional

Decidida a investigar mais sobre a literatura, língua e história de Portugal, Carolina Michaëlis de Vasconcelos começou a desenvolver um intenso trabalho de investigação, levando-a a se corresponder com inúmeras figuras da elite intelectual e cultural do país, como escritores, políticos, historiadores, médicos e filólogos, tais como Eugénio de CastroAntero de QuentalJoão de Deus de Nogueira RamosHenrique Lopes de MendonçaJosé Leite de VasconcelosConde de SabugosaTeófilo BragaTrindade CoelhoAnselmo Braamcamp FreireSousa ViterboAlexandre HerculanoAntónio Egas Moniz e Ricardo Jorge, ou personalidades espanholas, como os escritores Menéndez y Pelayo e Menéndez Pidal, para além de diversas outras figuras de origem francesa, inglesa e alemã.[10][11]

Pelo seu trabalho na divulgação e valorização da língua portuguesa, em 1901, foi-lhe concedida pelo rei D. Carlos a insígnia de oficial da Real Ordem Militar de Santiago da Espada.

Dez anos depois, em 1911, Carolina Michaëlis de Vasconcelos foi nomeada, por distinção, docente de Filologia Germânica da Universidade de Lisboa, tornando-se na primeira mulher a leccionar numa universidade portuguesa. Um ano depois, por querer estar mais perto da cidade do Porto, pediu transferência para a Universidade de Coimbra, onde viria a reger cinco cursos distintos: dois de Filologia (românica e portuguesa) e três de Língua e Literatura Alemã.[12]

Nesse mesmo ano, foi inscrita e votada para entrar, novamente por mérito, juntamente com Maria Amália Vaz de Carvalho, como membro e sócia da Academia das Ciências de Lisboa, tornando-se assim numa das primeiras mulheres a entrar na prestigiada instituição científica.[13]

Em 1924, dirigiu a revista Lusitânia (1924-1927), uma das publicações de maior projecção cultural em território nacional.[14]

Feminismo

No início do século XX, Carolina Michaëlis de Vasconcelos tentou fundar em Portugal um conselho nacional feminino, quando apresentou a canadiana Sophia Sanford, tesoureira da mais antiga organização americana feminista internacional, a International Council of Women (ICW), à escritora Olga de Morais Sarmento.[15] Através do envio de um cartão, não datado, a crítica literária e escritora luso-prussiana sugeriu que se reunissem «em sua casa algumas senhoras que falem inglês - e que desejam colaborar no movimento feminista», a fim de todas trabalharem «energicamente a favor do Bem». Apesar da reunião não obter resultados práticos, em 1914 a ideia passou do papel para a realidade quando Ana de Castro Osório fundou o Conselho Nacional das Mulheres Portuguesas (CNMP).[16]

Em 1926, o Conselho Nacional das Mulheres Portuguesas elegeu-a presidente honorária, prestando-lhe homenagem com um número especial da sua revista Alma Feminina.[17][18]

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