terça-feira, 5 de março de 2024

Extracto sobre o nosso REI D.CARLOS, in WIKIPÉDIA

 

Carlos I de Portugal

Origem: Wikipédia, a enciclopédia livre.
 Nota: Para outros monarcas de mesmo nome, veja Carlos I.
Carlos I
Rei de Portugal e Algarves
Reinado19 de outubro de 1889
1 de fevereiro de 1908
Aclamação28 de dezembro de 1889
PredecessorLuís I
SucessorManuel II
Duque de Bragança
Predecessor(a)Pedro V de Portugal
Sucessor(a)Luís Filipe, Príncipe Real de Portugal
 
Nascimento28 de setembro de 1863
 Palácio Nacional da AjudaLisboaReino de Portugal
Morte1 de fevereiro de 1908 (44 anos)
 Praça do ComércioLisboaReino de Portugal
Sepultado em8 de fevereiro de 1908Panteão da Dinastia de BragançaIgreja de São Vicente de ForaLisboaReino de Portugal
Nome completo 
Carlos Fernando Luís Maria Victor Miguel Rafael Gabriel Gonzaga Xavier Francisco de Assis José Simão[1]
EsposaAmélia de Orleães
DescendênciaLuís Filipe, Príncipe Real
Maria Ana de Portugal
Manuel II de Portugal
CasaBragança
PaiLuís I de Portugal
MãeMaria Pia de Saboia
ReligiãoCatolicismo
AssinaturaAssinatura de Carlos I
Brasão

Carlos I (Lisboa28 de setembro de 1863 – Lisboa, 1 de fevereiro de 1908), apelidado "o Diplomata", foi Rei de Portugal e Algarves de 1889 até ao seu assassinato. Era o filho mais velho do rei Luís I de Portugal, e de sua esposa, a princesa Maria Pia de Saboia.[2]

Nascido em Lisboa, foi cognominado "o Diplomata" (devido às múltiplas visitas que fez a MadridParis e Londres, retribuídas com as visitas a Lisboa dos reis Afonso XIII de EspanhaEduardo VII do Reino Unido, do imperador Guilherme II da Alemanha e do presidente da República Francesa Émile Loubet), "o Martirizado" e "o Mártir" (em virtude de ter morrido assassinado), ou "O Oceanógrafo" (pela sua paixão pela oceanografia,[3][4][5] partilhada com o pai e com o príncipe do Mónaco).

Infância e educação

O batismo de D. Carlos pelo Cardeal-Patriarca de Lisboa, pintura do acervo do Palácio Nacional da Ajuda.

Carlos nasceu na qualidade de príncipe herdeiro da coroa, pelo que recebeu desde cedo os títulos oficiais de Príncipe Real e Duque de Bragança. Na verdade o seu nascimento significou um verdadeiro alívio para a sucessão dinástica constitucional portuguesa (depois da morte de três filhos varões de Maria II), afastando-se assim as pretensões do ramo miguelista. O Príncipe recebeu desde muito cedo a cuidada educação reservada aos sucessores reais, incluindo o estudo de várias línguas estrangeiras. Ainda jovem viajou por várias cortes europeias (Grã-Bretanha e IrlandaAlemanhaÁustria-Hungria, etc.). Foi numa dessas deslocações que conheceu a princesa francesa Amélia de Orleães, filha primogénita do Conde de Paris (pretendente ao trono de França). Após um curto noivado veio a desposar a princesa, em Lisboa, na Igreja de São Domingos, em 22 de Maio de 1886. Ainda como herdeiro do trono esteve ligado ao grupo Vencidos da Vida e ao movimento da Vida Nova, personificando uma certa esperança de renovação cultural e social.

Carreira militar

Em 28 de Setembro de 1879, D. Carlos é nomeado guarda-marinha e ainda alferes do Regimento de Lanceiros 2 da Rainha.

Aos 21 anos, o príncipe Carlos é promovido a capitão de Lanceiros 1, ficando no entanto a prestar serviço no Quartel da Calçada da Ajuda nos Lanceiros 2.[6]

Já casado com a princesa Amélia de Orléans, foi promovido a tenente-coronel em 1887. Em 1889 alcançou a patente de Marechal do Exército após a morte de seu pai.

Reinado

Crise do ultimato

Cerimónia de aclamação de El-Rei D. Carlos.

Carlos I subiu ao trono em 19 de outubro de 1889, por morte de seu pai. Sua aclamação como Rei de Portugal ocorreu em 28 de dezembro de 1889 e teve a presença de seu tio-avô Pedro II, Imperador do Brasil, exilado desde o dia 6 do mesmo mês.

Carlos foi um homem considerado pelos contemporâneos como bastante inteligente mas dado a extravagâncias. O seu reinado foi caracterizado por constantes crises políticas e consequente insatisfação popular. Logo no início do seu governo, o Reino Unido apresentou a Portugal o Ultimato britânico de 1890, que intimidava a Portugal (movido pelo seu desejo expansionista, materializado no Mapa cor-de-rosa) a desocupar os territórios compreendidos entre Angola e Moçambique num curto espaço de tempo, caso contrário seria declarada a guerra entre os dois países. Como Portugal se encontrava na bancarrota, tal movimentação foi impossível e assim se perderam importantes áreas. Em consequência das suas acções, a propaganda republicana aproveitou o momento de grande emoção nacional para responsabilizar a coroa pelos desaires no ultramar. Estalou então a revolta republicana de 31 de janeiro de 1891, no Porto, que apesar de sufocada mostrou que as ideias republicanas avançavam com alguma intensidade nos tecidos operários e urbanos.

Como o próprio governo britânico analisou em 1898, as suas acções compremeteram a integridade da monarquia lusitana. Assim, re-avaliando-se as vantagens da presença aliada portuguesa em África, um plano de resgate financeiro foi elaborado, em conjunto com o império alemão, mas em última instância não chegou para desfazer os estragos.[7]

"O Diplomata"

Retrato do Rei D. Carlos com o uniforme de Grão Mestre da Ordem de Santiago.

Apesar da grave crise que Carlos enfrentou no início do seu reinado face à Inglaterra, então a maior potência mundial, o rei soube inverter a situação e, graças ao seu notável talento diplomático conseguiu colocar Portugal no centro da diplomacia europeia da primeira década do século XX. Para isso contribuiu também o facto de Carlos ser aparentado com as principais casas reinantes europeias. Deslocou-se inúmeras vezes ao estrangeiro, representando inclusivamente Portugal nas exéquias da rainha Vitória, em 1901. Uma prova do seu sucesso foi o facto da primeira visita que Eduardo VII do Reino Unido fez ao estrangeiro (como monarca) ter sido a Portugal, onde foi recebido com toda a pompa e circunstância, em 1903.

Nos anos seguintes, Carlos recebeu em Lisboa as visitas de Afonso XIII, o jovem monarca espanhol, da rainha Alexandra (esposa de Eduardo VII), de Guilherme II da Alemanha e, em 1905, do Presidente da República Francesa, Émile Loubet. Todas estas visitas deram algum colorido à corte de Lisboa, porém a visita do presidente francês seria marcada por entusiastas manifestações dos republicanos. Carlos e Amélia visitaram também, nesses anos de ouro da diplomacia portuguesa EspanhaFrança e Inglaterra, onde foram entusiasticamente recebidos em 1904. Em 1908, estava ainda prevista uma memorável visita ao Brasil (para comemorar o centenário da abertura dos portos brasileiros pelo seu bisavô D.João VI), e que não veio a acontecer devido aos trágicos acontecimentos desse ano.

Rei constitucional e situação política

Pintura equestre do rei D. Carlos I de Portugal.

De facto, durante todo o reinado de Carlos, o país encontrou-se a braços com crises políticas e económicas, que se estenderam ao ultramar. Essas crises decorriam do envelhecimento do sistema conhecido como Rotativismo, pelo qual os dois principais partidos, o Partido Regenerador e o Partido Progressista, se alternavam no poder. Esta mecânica era possível não só pela atribuição de poderes pela Constituição, como pelo sistema eleitoral. De facto, quando um ministério cessava funções, cabia ao rei designar outro, o que este fazia dissolvendo o parlamento, marcando novas eleições e chamando para formar novo governo o partido que havia estado na oposição. Este não tinha outra função enquanto o novo parlamento fosse eleito, que não fosse precisamente o de organizar essas eleições. Naturalmente, dado o limitado corpo eleitoral (cidadãos masculinos, alfabetizados com rendimentos acima de certo valor), o partido no governo não falhava, mediante promessas e combinações com os dignitários locais, em conseguir a vitória eleitoral. Esta influência notava-se menos nos dois grandes centros urbanos, onde os partidos minoritários — o Partido Republicano Português e o Partido Socialista Português — conseguiam ter alguma expressão (sobretudo o primeiro), mas nunca de molde a ameaçar o resultado. Ao longo de todo o período do Rotativismo, nunca o partido no poder na altura das eleições falhou em garantir uma maioria no parlamento, o que quer dizer que o rei era o único garante da rotatividade, de quem se esperava, uma vez o governo fora de funções, que chamasse os do partido oposto para governar.

O sistema tinha os seus vícios, pois de cada vez que um partido assumia os cargos políticos no ministério, os membros do partido cessante assumiam as funções administrativas não governamentais, como por exemplo a presidência do Crédito Predial, etc. Assim se garantia que os membros de ambos os partidos tinham sempre cargos estatais, o que não era de molde a incentivar uma séria fiscalização governamental.

D. Carlos I, rei de Portugal.
D. Carlos I, rei de Portugal.

Apesar disto, o sistema, de inspiração britânica, teve o seu período áureo entre 1878 e 1890, dando ao país a estabilidade que lhe faltara nas décadas anteriores. Por volta de 1890, no entanto, começou a dar mostras de desgaste, agravado pelas crises financeiras, provocadas quer pelo maciço investimento nas obras publicas feito durante o Fontismo, quer pelo investimento militar levado a cabo em África para cumprimento do princípio de ocupação efetiva decidido na Conferência de Berlim em 1889. A esta situação se juntavam os escândalos financeiros (como a Questão dos adiantamentos) com que a propaganda republicana aproveitou para atacar o sistema, e com que a oposição atacava o governo.

A falta dos líderes carismáticos das décadas anteriores também pode ter tido influência no desagregar dos partidos tradicionais. Em 1901, dá-se a primeira cisão, com a formação do Partido Regenerador Liberal, liderado por João Franco, a partir de um número de deputados do Partido Regenerador. Para agravar a situação, dá-se em 1905 uma segunda dissidência, desta vez a partir do Partido Progressista, quando José Maria Alpoim entra em rutura com o seu partido e funda a Dissidência Progressista. Ao contrário do movimento de João Franco, esta nova cisão parece ter sido motivada apenas pelas ambições pessoais do seu líder, e a dissidência progressista vai acabar por juntar-se a movimentos conspirativos com o Partido Republicano. Antes disto, no entanto, esta cisão vai acirrar os ânimos entre os partido tradicionais, já que aquando da ação de Franco em 1901, o Partido Progressista não se aproveitou dessa fraqueza do seu rival, mas agora o Partido Regenerador alia-se inicialmente aos Dissidentes. Isto foi considerado uma traição pelo líder Progressista, José Luciano de Castro, que prometeu vingar-se do seu rival Regenerador Hintze Ribeiro.

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