terça-feira, 12 de março de 2024

POEMA

 


A ESTRADA DO POEMA

 

 

Toda a terra se despe para receber o beijo do arado.

 

Uma voz, no seu interior, chamará pela semente,

Com a mesma intensidade com que as palavras chamam

Pelos meus lápis e cadernos,

  ansiosos pela força do correr do pensamento.

 

Sinto os ares do vento a darem no chão,

 levando-me as folhas onde

as letras, uma a uma,

 se vão convertendo em grumos de moles areias.

 

Parece que tudo o que vou escrevendo

 se transforma em páginas de terra

que o ventre do tempo ciosamente encerra,

 na ansiosa espera do amadurecer da semente.

 

Estou sob a sombra de potentes acácias que alindam a colineta.

Esta paisagem cansa-se da secura da terra, devido à falta de água;

 então, larga a estrada e procura chegar perto do mar,

 atapetado de areia branca

no brando estender-se da espuma, que não se pode arar ou semear.

 

A água do mar é salgada, bojuda e rendada,

 devido aos rugidos do oceano.

 

A superfície lisa das águas do mar deita-se sem respirar,

 pois teme que os silvos do vento se enrolem e não consigam nadar.

 

Vejo a torre do farol a semear a esperança de quem anda no mar

a procurar o pão-peixe,

 mesmo quando as nuvens se atropelam

 na estrada do meu poema,

 (que há-de surgir) de toda aquela terra

 que se despiu ,quando teve que receber o arado.

 

 

Passa o tempo...todo o tempo necessário para cada Um-ser-cada-Um.

 

Como os peixes um a um, as letras saltam  nos focos de bruma.

 

A vida das letras cai nas redes

consciente de que formam um poema

que chapinha no ventre de uma oração,

escondida sob a caruma de um pinheiral sorridente.

 

 

 

 

©Maria Elisa Ribeiro/2021

 

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