Os Templários, em pouco mais de dois séculos, mudaram a face da Europa, converteram-se num exemplo vivo de várias gerações e criaram uma ponte – iniciada com as Cruzadas – entre o Oriente e o Ocidente. É claro que, mais além da vinculação formal com a Igreja Romana, serviam o Ideal de uma Monarquia Universal, e é provável que um dos seus fins, ocultos, fosse a reunificação da Europa segundo cânones estritos de justiça, beleza e moralidade.

O que é também evidente mas poucas vezes mencionado é a vital importância que tiveram os Templários na Fundação de Portugal. E não só na ajuda que deram ao rei Afonso Henriques para conquistar as futuras terras de Portugal aos muçulmanos, mas também no labor civilizatório que exerceram nestas terras, na educação dos seus primeiros reis, na força espiritual e exemplo que souberam ser ante o próprio Rei e na protecção e impulso que lhe deram, de certeza, para que proclamasse a independência em relação ao reino de Leão. E, para os que acreditamos – está bem testemunhado – no Milagre da Batalha de Ourique, a acção dos Templários é de importância vital, também, na formação místico-guerreira que deram ao Rei, fazendo Dele, o designado pelo “dedo de Deus” para o nascimento de um novo reino, de uma terra mãe de tantas futuras façanhas.

Os historiadores, em geral, não querem dar a esta Ordem um papel prioritário e de nenhum modo, nem em sonhos, atribuir ao Ideal e à Fraternidade do Templo uma especial importância sobre o Rei Afonso Henriques e no nascimento de Portugal.

Alguns investigadores, mais audazes e providos de uma do-cumentação bem fundamentada, sim atrevem-se. De destacar o livro de Eduardo Amarante “Templários, de Milícia Cristã a Sociedade Secreta”, no seu vo-lume IV – Tomo I “Da Formação de Portugal às Descobertas” e o de Paulo Alexandre Loução em “Templários na formação de Portugal”.

Não entendemos porque é que Diogo Freitas do Amaral, na sua biografia de Afonso Henriques ignora tais factos fundamentais e inequívocos. Não entendemos porque é que quase converte os Templários em inimigos do Rei, quando este toma a decisão de nomear como sucessor o seu filho legítimo D. Sancho e não o seu primeiro filho, mas ilegítimo, Fernando Afonso, pois a influência do Templo seguiu pura e forte com o novo rei.

Não entendemos porque é que não se dá a importância devida ao documento em que D. Afonso entrega – na realidade confirma a doação que tinha feito a rainha Teresa, sua mãe – o castelo de Soure aos Templários e onde declara: “Douvos e concedo-vos o tal Castello com todos seos foros que são e forem para que vós o tenhais firmemente, e todos os vossos sucessores para sempre, e esta doação faço, não por mando ou persuasão de alguem, mas por amor de Deos, e por remedio da minha alma, e de meus Pais, e pelo cordial amor que vos tenho por e PORQUE EM A VOSSA IRMANDADE E EM TODAS VOSSAS BOAS OBRAS SOU IRMÃO (…) Eu o Infante D. Affonso, com minha propria mão roboro esta Carta”.

Esta carta de doação está datada de 13/03/1129, somente um ano depois do Concílio de Troyes em que nasce o Templo, num momento em que os cavaleiros templários eram muito poucos e Hughes de Payens estava a pedir a São Bernardo que escrevesse um sermão de exortação que facilitasse o recrutamento de novos cavaleiros.

Destacamos o comentário e os novos dados que traz Paulo Loução no seu livro “Os Templários na Formação de Portugal”.

“Lemos centenas de cartas de doação no ‘Arquivo Nacional da Torre do Tombo’ e podemos afirmar que o texto acima sublinhado por nós a negro foi escrito intencionalmente; não é de forma nenhuma uma frase feita, como existem muitas naquela época. Significa, dessa forma, que D. Afonso Henriques foi pelo menos confrade do Templo. É também enigmático que no foral de Guimarães, assinado pelo Príncipe D. Afonso, em 1128, esteja como selo rodado a cruz orbicular desenhada na perfeição e segundo as mesmas proporções que os templários a utilizaram em Portugal. Por outro lado a Ordem do Templo aceitou instantaneamente o Infante D. Afonso como governador do condado. Tudo leva a crer que os templários e o novo governador do condado tenham estabelecido uma aliança, ou seja, o projecto do novo País teve o apadrinhamento consciente dos sábios e estrategas templários. Não é de certeza, por acaso, que em 1148 D. João Peculiar, arcebispo de Braga e ‘ministro dos negócios estrangeiros’ de D. Afonso Henriques, vai a Roma com claros objectivos diplomáticos acompanhado por um representante do mosteiro de Santa Cruz de Coimbra e POR UM TEMPLÁRIO. Lembremo-nos que a Ordem do Templo era uma multinacional do espírito muito bem organizada e hierarquizada, pelo que, a sua decisão de defender Portugal como reino independente junto do Papa só pode ter sido uma resolução consciente assente na harmonia entre o Ideal templário e o projecto da nobreza portucalense liderada pelo novo rei”.

Desde as primeiras batalhas os templários acompanharam o Rei e assumiram, em geral, as posições mais perigosas. Estiveram com ele na Batalha de Ourique onde pela primeira vez foi aclamado Rei, ele que antes sempre assinara como dux ou princeps. O Mestre Templário Gualdim Pais, que fora nomeado cavaleiro pelo próprio rei, era a sua sombra, conselheiro e protector. Os Templários tiveram grande importância nas diligências diplomáticas perante o Papa, procurando obter o reconhecimento oficial de Afonso Henriques como primeiro rei de Portugal. E a trama internacional do Templo, apoiando o Rei, teve que ser uma razão importante neste reconhecimento, apesar das dúvidas do Papa, dos seus avanços e recuos. As for-talezas de maior importância estratégica eram defendidas pelos templários e também na conquista das novas terras o labor templário foi inestimável.

Por outro lado, em Setembro de 1169, o Rei Afonso Henriques realizou algo ainda sem precedente na História de Portugal: doa, na presença de Godofredo Fulcheri, Procurador do Templo do ultramar (Terra Santa), um terço do terreno que a Ordem conquistasse e povoasse a sul do Tejo. A presença deste Procurador, cargo de alto nível na hierarquia internacional da Ordem, diz da importância deste acto e a importância que Portugal tinha para a estratégia dos Cavaleiros do Templo. (1)

Ante o embate pujante dos almóadas, o labor guerreiro e civilizador dos Templários na linha defensiva do Tejo garantia a sobrevivência de Portugal. Especialmente quando o rei, ferido, teve que retirar-se após a derrota de Badajoz em 1169. Tal como nos recorda o historiador Alexandre Herculano:

“Esta poderosa associação de monges cavaleiros, mais ainda do que obtivera no governo de Dona Teresa (mãe de D. Afonso Henriques) já tinha recebido do rei de Portugal o senhoria do castelo de Cera e os territórios que atravessam o Nabão e o Zêzere desde a alta Estremadura, prolongando-se para oriente pela Beira Baixa; territórios vastíssimos em que os Templários tinham fundado castelos, como os de Pombal, Tomar, Ozezar, Almourol, Idanha e Monsanto. Era a estes homens por ele enriquecidos e cujo estatuto os obrigava a combater continuamente contra os infiéis que o rei, incapacitado para vestir as armas, confiava principalmente a defesa das suas últimas conquistas”.

Os Templários, Gualdim Pais e os seus monges cavaleiros acompanham o futuro rei D. Sancho nas suas lides, desde que em 1170, então com 16 anos fora armado cavaleiro pelo seu pai o Rei, em Coimbra.

E quando, com quase 70 anos, Dom Afonso pode e deve voltar às armas, com ele estão Gualdim Pais e os seus templários, cavalgando e fazendo fugir os mouros que tentavam pôr um cerco a Abrantes.

E no dia 6 de Dezembro de 1185, quando o Rei Afonso Henriques, o fundador e o conquistador, abandona este mundo depois de uma vida gloriosa de batalhas e de trabalhos, ali estão os Templários, com Gualdim Pais, presentes nas suas exéquias no Mosteiro de Santa Cruz. Quando depois do funeral Dom Sancho é aclamado segundo Rei de Portugal, ali estão como sombras bondosas, fiéis e vigilantes, os Templários, orgulhosos da missão que deu nascimento a Portugal.




José Carlos Fernández
Director da Nova Acrópole Portugal