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Durão Barroso: ditosa Pátria que tal filho tem!
(Nicolau Santos, in Expresso Diário, 08/07/2016)
O dr. José Manuel Durão Barroso vai ser presidente da Goldman Sachs International. É o culminar de uma linda carreira, iniciada nos bancos da universidade, onde abraçou a causa maoísta do MRPP, para não muito tempo depois aplicar tais ensinamentos à social-democracia, para onde se mudou de armas e bagagens, chegando a líder do PSD, primeiro-ministro acidental, a que se seguiu uma “tocata e fuga” para presidente da Comissão Europeia. Agora chega o reconhecimento da mais poderosa entidade financeira mundial. É obra!
Durão Barroso é um exemplo para a juventude portuguesa. Soube perceber que nunca chegaria a líder do MRPP, onde pontificavam Arnaldo Matos e Saldanha Sanches. Mudou-se para o PSD, onde as lideranças mudavam com uma rapidez extraordinária. Viu o então líder Marcelo Rebelo de Sousa demitir-se ao fim de três anos, por ter sido traído pelo seu aliado da altura, Paulo Portas, e avançou para a liderança dos sociais-democratas. Analistas e comentadores garantiram inúmeras vezes que Durão Barroso nunca chegaria a primeiro-ministro. Mas na sequência de umas eleições autárquicas, o então primeiro-ministro, António Guterres, demitiu-se, o PS viu-se envolvido no escândalo da Casa Pia e Barroso chegou a São Bento. Governou dois anos, organizou a cimeira dos Açores, onde estiveram Bush, Blair e Aznar e que serviu para o presidente norte-americano obter os apoios internacionais de que necessitava para invadir o Iraque. Como prémio, Barroso foi convidado para presidir à Comissão Europeia, onde se manteve durante dez anos.
Durante esse período, a Europa sofreu o embate da crise financeira mundial, que nasceu nos Estados Unidos, e assistiu à crise das dívidas soberanas e do euro. Foram dez anos em que a Comissão deixou de ser o epicentro da construção europeia, perdeu claramente poder para o eixo Berlim-Paris, primeiro, e depois para Berlim e para o Conselho Europeu, deixou de ser o defensor dos interesses dos pequenos países no processo de integração, não conseguiu responder de forma célere à crise grega, que depois se propagou à Irlanda e aos países mediterrânicos, submeteu-se ao ritmo e aos ditames de Angela Merkel – mas conseguiu aquilo que almejava: ser eleito para um segundo mandato à frente da Comissão, coisa que antes só um francês (Delors) e um alemão tinham logrado.
Saiu com um lindo discurso no Parlamento Europeu em várias línguas. Depois, ficou à espera que o fossem buscar num andor para se candidatar à Presidência da República Portuguesa. Mas ninguém foi. E as sondagens também iam mostrando que o povo português não o amava. Injustamente, claro, pois não só o criticavam por ter deixado o seu mandato a meio, como por não ter defendido suficientemente o país durante o período de ajustamento.
O dr. Barroso ficou então de pousio, a dar umas conferências e umas aulas numa universidade americana. Mas uma pessoa com tanto valor e experiência nunca ficaria muito tempo no desemprego. E surge agora esta maravilhosa oportunidade para liderar a parte internacional da Goldman Sachs, por acaso exatamente a mesma empresa que foi acusada de ajudar a Grécia a maquilhar as suas contas públicas para enganar a Comissão quando o dr. Barroso estava à frente da dita. Mas o que interessa isso? Já lá vai…
O que conta é que o dr. Barroso é o político português com a mais fulgurante carreira internacional e um exemplo para todos os emigrantes: com esforço e dedicação e os amigos certos tudo se consegue na vida. Que não seja muito apreciado por cá releva apenas da tradicional inveja do povo português. Os outros, entre os quais me incluo, esperam muito desta nova fase profissional do dr. Barroso. Sobretudo do ponto de vista ético.
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