Trecho de "O primo Basílio", se Eça de Queirós
O Primo Basílio
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09 Out 2013
Escritor Eça de Queirós
Luísa, presa a um casamento sem amor e a um marido constantemente ausente em trabalho, encontra um meio de escape da sua vida rotineira, puritana e conservadora, ao envolver-se amorosamente com o seu primo Basílio, um seu antigo namorado, que fez fortuna no Brasil e que chegara recentemente a Lisboa.
Um sorriso vagaroso dilatou-lhe os beicinhos vermelhos e cheios. — Fora o seu primeiro namoro, o primo Basílio! Tinha ela então dezoito anos! Ninguém o sabia, nem Jorge, nem Sebastião…
Após criticar fortemente a mentalidade ultra-religiosa da província portuguesa do século XIX com a sua obra “O Crime do Padre Amaro” e de escandalizar o país com um tema tão controverso que enraiveceu a Igreja, Eça de Queirós volta a cometer o mesmo feito, quebrando novos tabus literários, somente três anos depois, em 1978, com a publicação da sua obra “O Primo Basílio”; desta vez tendo a classe média, burguesa e citadina, como figura de crítica e tendo o Adultério como tema controverso.
O Primo Basílio, é sobretudo uma sátira à mentalidade social da época, que expõe a verdadeira face de um lar burguês, aparentemente feliz e perfeito, mas que na realidade vive uma mentira e que, no fundo, é apenas parte de uma sociedade por onde desfilam toda uma séria de personagens consideradas o protótipo da falsidade, da futilidade e da ociosidade. Tal exposição crítica vai de encontro com os propósitos do movimento do Realismo literário do século XIX que vê a literatura como um meio de expor a verdade e de ser uma plataforma para a mudança de valores. A burguesia – principal consumidora dos romances nessa época – deveria ver-se a si mesma no romance e nele encontrar os seus defeitos, analisados objetivamente, para, assim, poder alterar o seu comportamento.
Embora o título remeta para a ideia do romance ter um protagonista masculino, a obra e o seu trama é todo centrado em Luísa, a única protagonista feminina de todos os romances Queirosinanos – Basílio é apenas o objeto do seu desejo e um catalisador do desenrolar da ação – e, tal como todos os protagonistas dos romances críticos de Eça de Queirós, Júlia não é nenhuma heroína romântica mas sim, tanto uma infeliz vítima das circunstâncias sociais (que são, pela sua natureza, podres) como também a principal responsável pelos seus próprios problemas. Eça tanto a culpabiliza por se deixar dominar pela literatura ultraromântica e hiper-sentimentalista que a faz idealizar expetativas de um casamento que não são realistas, como culpabiliza todo o meio social envolvente que a influencia e incita a cometer adultério, sobretudo na forma de Basílio, possivelmente o mais infame dos vilões de Queirós.
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