sexta-feira, 1 de março de 2024

POEMA

 ANÉMONA-BAILARINA

Sem cenários áridos, ocos, vazios cintila a atmosfera clara
no ONDE as palavras têm um rumor de arvoredos
O vento odoroso, poderoso,
sacode as águas vivas que vejo, perturbada,
através das velhas frestas da casa arruinada
As flores no ventre da terra oferecem à vida os estames
que rebentam em luz e cor
a alegrar os campos e as árvores
As Palavras habitam espaços inimagináveis
tais anémonas-bailarinas no tronco de vento,
que lhes mostra as vértebras e o coração brilhante
da terra-húmus faminta.
As anémonas- bailarinas precisam de vento para dançar
no meio das searas cobertas de papoilas,
tal como fazemos nós
no tempo desse vermelho-oiro. Como elas, não tenho medo
do amor
e pouso a tua mão devagar sobre o peito da terra que
mata as suas pétalas...e as do linho e da genciana...das ervilhas-de-cheiro
...das campainhas azuis...
Que aconteceu às Palavras? Como vou chamar por elas, se as escondem e
sem elas, nem os silêncios têm nome?
©Maria Elisa Ribeiro
Direitos reservados
2022

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