Paula Rego
Paula Rego | |
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Nascimento | Maria Paula Figueiroa Rego 26 de janeiro de 1935 Lisboa |
Morte | 8 de junho de 2022 (87 anos) Londres |
Sepultamento | Cemitério de Hampstead |
Cidadania | Portugal, Reino Unido |
Cônjuge | Victor Willing (1928-1988) |
Alma mater |
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Ocupação | pintora, litógrafo |
Prêmios | |
Movimento estético | modernismo |
Maria Paula Figueiroa Rego GCSE • GColCa • OBE, mais conhecida por Paula Rego (Lisboa, 26 de janeiro de 1935 — Londres, 8 de junho de 2022), foi uma pintora luso-britânica, condecorada pelo Governo Português e pela Rainha Isabel II.
Biografia
Paula Rego nasceu em Lisboa a 26 de janeiro de 1935, no seio de uma família da alta burguesia, de tradição liberal e republicana, com ligações à cultura inglesa e francesa. Filha de José Fernandes Figueiroa Rego (1907-1966), engenheiro eletrotécnico, e de Maria de São José Avanti Quaresma de Paiva Figueiroa Rego (1909-2001), durante os seus primeiros três anos de vida viveu com os seus avós paternos, José Figueiroa Rego (1885 - ?) e Gertrudes Fernandes (1890 - 1943), na quinta que a sua família possuía na Ericeira, devido aos seus pais terem partido para Inglaterra a fim de terminarem os seus estudos académicos, criando aí as suas primeiras memórias de vida e umas das principais fontes de inspiração para as suas obras artísticas. Mais tarde, já com os seus pais de regresso a Portugal, foi diagnosticada com tuberculose, passando a residir, por recomendação médica, junto ao mar no Estoril e a passar os fins de semana na casa dos avós na Ericeira.[1]
Recuperada da doença, iniciou os seus estudos no Colégio Integrado Monte Maior, em Loures, ingressando posteriormente, em 1945, na St. Julian's School, em Carcavelos, sendo o seu talento para a pintura reconhecido bastante cedo pelos seus professores. Após concluir o ensino secundário, incentivada pelo pai a prosseguir o seu desenvolvimento artístico fora do país e longe do regime salazarista, em 1952 partiu para Londres, onde estudou na Slade School of Fine Art até 1956 e conheceu o pintor inglês, nascido no Egipto e então estudante, Victor Willing (1928-1988), com quem passou a viver e se casou em 1959.
Regressada a Portugal em 1957, passou a residir na Ericeira com a sua família, continuando durante esse período a criar efusivamente novas obras e a participar ocasionalmente em exposições colectivas em Inglaterra, recebendo ainda em sua casa vários amigos e artistas como Michael Andrews e Peter Frederick Snow ou visitando a praia de Mil Regos diariamente com os seus três filhos Nick Willing, Caroline Willing e Victoria Willing.[2] Ainda no mesma época, a pintora tornou-se bolseira da Fundação Calouste Gulbenkian e expôs colectivamente perante o público lisboeta em 1961, na II Exposição da Gulbenkian.[3] Somente cinco anos depois, Paula Rego expôs individualmente pela primeira vez, na Galeria de Arte Moderna da Escola de Belas-Artes de Lisboa, em 1966, onde apresentou vários trabalhos relacionados com acontecimentos chocantes da vida política ibérica, como Cães de Barcelona, Gorgon, Retrato de Grimau ou Manifesto (por uma causa perdida), entusiasmando a crítica portuguesa.
Em princípios da década de 1970, com dificuldades financeiras, geradas pela falência da empresa familiar e a falta de remuneração pelo seu trabalho como artista, para além da progressão do débil estado de saúde de Victor Willing, a pintora viu-se obrigada a vender a Quinta Figueiroa Rego, algo que a marcou profundamente, radicando-se em Londres com o seu marido e filhos.
Em 1975, inspirada pelo universo literário dos contos populares portugueses, Paula Rego recebeu uma nova bolsa da Fundação Calouste Gulbenkian, começando a desenvolver uma intensa pesquisa, da qual criou a série de guaches Contos Populares Portugueses. Três anos depois, prosseguindo com os seus estudos sobre contos de fadas em várias bibliotecas de Londres e Paris, criou onze obras para a exposição Arte Portuguesa desde 1910, dominada pelas colagens.[4]
Durante a década de 80, começou a leccionar como professora convidada na Slade School of Fine Art. Regressando à pintura, mais livre e mais directa, retratou o mundo intimista e infantil, inspirado em dados reais ou imaginários, com narrativas zoomórficas pertencentes a um teatro de crianças de Victor Willing, através das figuras de um macaco, um leão e um urso, assim como inspirou-se na obra literária de George Orwell, "1984", criando o painel Muro dos Proles, com mais de seis metros de comprimento, onde estabeleceu um paralelismo com as figuras de Hieronymus Bosch. Pouco depois, deu uma viragem radical na sua obra com a série da menina e do cão, onde a figura feminina assumia claramente a liderança na acção, enquanto o cão era subjugado e acarinhado. A menina faz de mãe, de amiga, de enfermeira e de amante, num jogo de sedução e de dominação que continua em obras posteriores. Tecnicamente as figuras ganham volume, o espaço ganha solidez e autonomia, a perspectiva cenográfica está montada. Ainda na mesma década, em 1987, Paula Rego assinou com a Galeria Marlborough Fine Art, ganhando divulgação internacional e dando entrada com obras da sua autoria nas colecções do Tate Museum e da Saatchi Collection. Um ano depois, com a morte do seu marido por esclerose múltipla, criou as obras O Cadete e a Irmã, A Partida, A Família e A Dança, expondo-as posteriormente na Gulbenkian e pela primeira vez nas Galerias Serpentine em Londres e no Museu de Serralves do Porto, e a colecção de gravuras em aguatinta Nursery Rhymes, sendo exposta em Lisboa pela Galeria 111 e posteriormente adquirida pelo Victoria and Albert Museum.[5]
Durante a última década do século XX, a convite da primeira edição do programa Associate Artist Scheme da National Gallery, a pintora ocupou um atelier no museu, destacando-se desse período a obra Tempo – Passado e Presente (1990-1991) e a série de pinturas a pastel intitulada Mulher Cão (1994), que marcou o início de um novo ciclo de representações de mulheres simbólicas.
Apesar de viver no estrangeiro, a pintora que continuava atenta à situação política e social de Portugal, demonstrou o seu desagrado com o resultado do primeiro referendo ao aborto, realizado no país em 1997, com a obra Aborto (1997-1999), gerando o choque e abrindo novamente a discussão do tema na imprensa portuguesa.[6] Anos mais tarde, na sequência do Ciclo da Vida da Virgem Maria que Paula Rego pintou para a Capela de Nossa Senhora de Belém, no Palácio Nacional de Belém, a convite do Presidente da República Jorge Sampaio, foi pedido à artista que realizasse o retrato oficial do presidente, rompendo com os cânones tradicionais do retrato presidencial, tal como já havia sido feito pelo seu predecessor Mário Soares ao ser retratado por Júlio Pomar. O Retrato oficial do Presidente Jorge Sampaio realizado em 2005, mas só revelado ao público em 2006, introduziu pela primeira vez uma mulher na galeria de pintores oficiais da Presidência da República.[7]
Em 2006 foi convidada pelo Presidente da Câmara Municipal de Cascais, António Capucho, a expor em permanência a sua obra no concelho onde viveu grande parte da infância. Aceitando a proposta, Paula Rego indicou o nome de Eduardo Souto Moura para desenvolver o projecto e escolheu um dos terrenos que lhe foi apresentado, ao lado do Museu do Mar, como lugar do futuro museu, nascendo assim a Casa das Histórias Paula Rego, em Cascais, a 18 de setembro de 2009, com o intuito de acolher e promover a divulgação e estudo da sua obra.[8]
A 7 de julho de 2012, apresentou uma série de pinturas inéditas, numa exposição em parceria com a artista portuguesa Adriana Molder, inspirada na narrativa histórica de Alexandre Herculano, intitulada “A Dama Pé-de-Cabra”, na Casa das Histórias em Cascais.[9]
Lançado em 2017, Nick Willing, filho de Paula Rego, realizou o documentário "Paula Rego, Histórias e Segredos" (Paula Rego, Secrets & Stories), produzido pela Kismet Films para a BBC, com imagens de arquivo familiar e pessoal nunca antes mostradas ao grande público, revelando também o lado mais intimo da vida e obra da pintora portuguesa, que sem restrições aborda directamente temas como a sua luta contra o Estado Novo e a misoginia no mundo das artes assim como a sua batalha contra a depressão.[10]
Em 2019, durante o ano de comemoração dos 30 anos de existência da Fundação de Serralves, uma nova exposição foi organizada no Museu de Arte Contemporânea de Serralves, no Porto, intitulada "O Grito da Imaginação", compreendendo a produção artística de Paula Rego entre 1975 e 2004, com um total de 36 obras.[11] No ano seguinte, foi realizada uma exposição que reunia 115 obras da pintora ao lado de telas de Josefa de Óbidos em uma mostra intitulada "Paula Rego/Josefa de Óbidos: Arte Religiosa no Feminino" na Casa das Histórias, em Caiscais.[12][13]
Faleceu a 8 de junho de 2022, em Londres, com 87 anos de idade, tendo sido decretado luto nacional em Portugal.[14][15][16] Encontra-se sepultada junto do marido no cemitério de Hampstead, em Londres.[17]
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