sexta-feira, 6 de janeiro de 2023

POEMA






 CABELO-MÃE…

À deriva, conchas desfeitas, consumidas pela vida do mar.
Vidas nuas pintalgam o areal dourado,
endurecido pelo respirar de espuma, que as forçou a nadar
fora das ondas revoltas, soltas em marés cobertas de bruma.
Do promontório musgoso,
um Homem de vestes negras com as mãos nos olhos em pala,
escutava o mar, olhando mais para LONGE
esperando lagunas e caravelas nos caminhos
de areias finas
das águas azul-safira,
aos pés dos palmeirais-Além.
[Henrique, o navegador, sonhava, também…]
Uma mulher em cabelo-mãe
acenava o lenço branco pelas vielas do cais,
ali , onde o sol pintava de verdes esperanças
as luzes de um canto Luso, Lá, aos pés de exóticos coqueirais.
(Sal do mar queimava os lábios da Grande-Mãe-Telúrica,
matriz de um futuro renascimento.)
Uma chuvinha benfazeja desabrochava a carqueja dos
pinheirais-maduros-para-novos-futuros…
… e o poeta preparava Adjectivos para atribuir a novos Substantivos.
Em terra, perto da Face-Mãe, ficavam moinhos-pão,
[leiras por plantar…
[sinos de aldeia de infância
[tristes, a redobrar…
…ficavam pardais a saracotear em torno de amendoeiras-em-flor,
a bailar Cantigas de Amor…
…ficava o Norte e o Sul de um país de Leste a Oeste…
…ficava a amarga Pátria, a viver-novas-mudanças-da- Mudança
perto da lareira acesa, a aconchegar, esperando .
Do tanto que ficou-a-Haver nos doces cabelos-mãe,
ficaram Camões e Pessoa,
Ramos-Rosa e Mourão Ferreira,
Pascoaes e José Régio
…e outros raios de luz que existem a revelar a
[verdade da Mensagem que resiste.]
Amo o mar e amo a lua…
Amo as palavras que escrevo…
Amo o silêncio da terra-que-sou!
Amo a música das aves, nas ilhas mágicas do Sonho
onde Outrora me perdi,
no ventre de cada aurora, onde uma Mãe sorri…
Maria Elisa Ribeiro
FEV/013-Portugal

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