Poema:
PEDRA- FILIGRANA
Cai a noite, escura, salpicada de estrelas
a inchar de orvalho as flores e as ervas.
……………………Miríades de avezinhas esvoaçam para os ninhos,
……………………………num roçagar seco e desnorteado
…………………………………..como insectos a fugir das trevas.
Cai a noite, quando o sol adormece
sob o brilho dos raios de luar.
…………………Outras vidas vão despontar na confusão escura da terra;
……………………..outras vidas vão viver, até ao raiar da aurora
……………………………de tons azulados sobre musgos viçosos,
…………………………………a proteger os pés das árvores
…………………………………….do frio ruidoso, de que a noite é ciosa.
As palavras incendeiam a noite escura,
como filigrana de pedra
que orna cânticos das colunas das catedrais;
e o poeta,
numa visão inaugural e fissurada do mundo,
luta contra quietudes espectrais
do seu submundo lexical.
Cai a noite para isolar as trevas
e fazer brilhar as estrelas despertas
ao alvorecer do novo dia-a-nascer
em filigrana de pedra , a romper a madrugada.
Num real para lá do real,
chega a manhã no dorso de fonemas…
…ilumina-se o vôo das aves…
…o rio corre sem ver os passos dados…
…o mar calado emite o seu natural rumor…
Caiu a noite…acordou pela manhã... viu nascer uma teia
filigrana-baba,
que passeia de rama em rama, numa espiral complexa e cansada.
Maria Elisa Ribeiro
Abril/013 —
Online
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