Extracto de um texto do "EXPRESSO", na Internet, onde é citada a poetisa Maria Germana Tânger, numa entrevista ao Jorge Palma.
"Andámos um ano aí a vadiar. É quando conheço a Amália, a Germana Tânger, o Luís Sttau Monteiro." A vida torna-se num frenesim. "Os gajos eram todos bons cozinheiros, havia sempre uma festa algures. Em minha casa, hum... A minha primeira mulher não era tão boa cozinheira como isso, fazia umas coisas. Eu não fazia nada. Mas o Ary era muito bom na cozinha. Hoje era aqui, amanhã ali, andava sempre a rodar. Fiz arranjos para tanta gente, fiz discos. Os gajos acreditavam em mim."
A conversa avança em círculos. A memória atraiçoa-o vezes sem conta. As horas vão passando, e a cerveja já não o satisfaz. A voz fica entaramelada. Pede um whisky ainda na esplanada do restaurante que lhe serve de cantina. Já são quase seis da tarde. Pensa naquilo que o motivava. Aí não tem dúvidas: "Sexo, drogas e rock'n'roll." Agradava-lhe a ideia do tipo com uma guitarra às costas. "Põe-se a guitarra no colo, faz-se uma esplanada, tira-se uns dinheiros, engata-se umas miúdas, há sempre copos." Não fala de um ideal de vida, muito menos de uma filosofia, que diz nem ter. "Mas esta vida não a aconselho a ninguém. A não ser a quem nasça para isto. Eu nasci para isto e hei-de morrer com isto. Nasci para tocar. Estou de directa, mas se calhar, daqui a duas horas, estou a tocar aí com uns amigos, a fazer uma jam. Felizmente, tenho dois pianos, um de cauda e um curto, tenho uma data de guitarras, é pegar numa e dizer: 'Olha, é esta.'" Não está longe da verdade. Pouco mais de uma hora e meia depois, está em casa a tocar com Lourenço, "um afilhado", acabado de chegar de Nova Iorque, quatro dias a tocar na rua. "Enquanto eu tiver dedinhos e meia de voz, posso sempre recitar", declara.
É o momento de viragem no seu discurso cheio de curvas. Será que a vida continua a ser uma festa? Será que não tem agruras? "Então não há agruras. Não durmo, tenho uma barriga de que não gosto, uma pele que não é a minha. Estou preso a um triângulo que me assusta: cabeça, fígado e pele. Bebo muito, fumo muito. Não sei que medicamentos posso tomar para tratar cada vértice desse triângulo e que não interfiram uns com os outros. Isso preocupa-me. Tenho de sair daqui. É dermatologista na terça, psiquiatra na quarta, análise ao fígado na quinta. Testes e mais testes. Não tenho ajuda se não souber o que é que me está a fazer mal." Mesmo assim, responde que não à pergunta se gostava de deixar o álcool. "Não. Deixar, deixar... Nem o meu psiquiatra me aconselha. Não se pode parar de um momento para o outro. Na quantidade que eu bebo, parar faz mal. Deixar o álcool para sempre também não quero. Reduzir... talvez. Amanhã menos dois copos, depois de amanhã menos três. Com a vida que eu tenho, é tão complicado..."
Sem comentários:
Enviar um comentário