segunda-feira, 4 de novembro de 2019

POEMA: NO SEIO DAS MAGNÓLIAS

NO SEIO DAS MAGNÓLIAS

Uma guitarra de vento adormeceu-me,
quando meus olhos incendiavam o escurecer da tarde.
Acordei num outro dia… a luz solar entrou pela janela-que-foi-noite
e levantou-me as pálpebras , confusas…
Aos meus sentidos chegou o aroma da velha magnólia,
intenso e vibrante, com o frio da noite infiltrado
em imagens difusas…
Ergueram-se os ramos das árvores da sonolenta montanha
que , agora ri, ao sair do ambíguo nevoeiro
que sufocou o seu alvorecer.
Na memória enevoada das recordações
levanto-te, flor rosada, ao nível do voo sereno e compassado
das águias, solitárias em perenes deambulações.
(Meus olhos chamam-te, Vida!)
O silêncio das palavras desliza, pelos sonhos nocturnos,
para as folhas brancas-alvas das rosas silvestres-sós,
a que o poema dá voz.
E o seio das magnólias sorri ante a força dos raios de luz
de um sol estonteante, que seduz…
…raios de luz…luz das pestanas cintilantes do astro rei
que se abrem, lentamente,
ao entrarem pelas janelas entreabertas dos vales sombrios, enevoados…
O mar revolto ondeia nas marés e tem saudades das estrelas que já dormem,
ao lado do luar escondido
nas ondas ,
que vagueiam ao colo das sereias…
Passam coloridas mariposas,
formosas a voltejar, a caminho dos jardins.
Os ventos respiram a brancura da transparência da luz solar,
que cobre searas douradas onde as papoilas rubras emergem , a suspirar…
As veias do trigo loiro e do milho amarelado inventam asas-de-amor-a-crescer,
enquanto que o solo semeado, espera pela hora-do-pão-a-Ser.
(E eu-em-mim
-estou-sem-ti…)
Acordada, não rejuvenesci…
Alongam-se-me os olhos pelos céus desertos, onde te vivi…
É Gaia-Terra-Ventre do mistério primordial
quem ouve a música do violino que, a um canto da cósmica catedral,
soa no corpo da semente vital…

Maria Elisa Ribeiro-NOV/012-

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