QUANDO A PROSA ME INVADE A POESIA
(DA PELE DA TERRA)
Da pele da terra que pisa, meu corpo
absorve o calor do amor das suas entranhas.
À minha volta, tudo são profecias!
Vem o Outono e profetiza o Fim dos tempos quentes, das árvores ardentes de calor, da vida de que se queixam as gentes. Vem a doce Primavera e , com ela, chegam, novamente, as vozes das belezas da vida que guardo na ponta dos dedos para copiar numa folha de papel num poema sem medida. Todas as belezas e toda a vida!
E como o Futuro acaba para todos os que passam o Rio,
há-de chegar o Inverno escuro, triste e frio.
Água e neve proliferam em tudo o que está vazio.
E a voz da matéria do meu poema anda pelas estradas a ler as montanhas a entristecer, passa pelo areal das Antigas despedidas, chama pelas avezinhas soltas pelo ar onde espalham cantigas de liberdade, enquanto as flores se escondem com suas pétalas macias debaixo da pele da terra que piso, até que rebente o sol do amor à vida, nos canteiros da verdade.
Na pele que piso,
só eu sinto o calor da alma da semente
a profetizar um trigueiral de pão quente.
Numa página branca, como parede caiada, escrevo o meu poema com as imperfeições que o corpo quente do sol há-de dourar. com o sabor das mais belas emoções. O poema chegará ,então, dentro do verão, cheio de ternura para com os sem-abrigo, para com as crianças e as mulheres violentadas deste mundo-em-perigo, às esquinas sujas e violentas das escuras vielas, essas arestas do mundo onde se perdem as vidas da noite, a espreitar a beleza pelas frestas de um postigo.
Da pele da terra, quero o melhor e o mais belo…
…a verdade que procuro e persigo…
…mesmo que numa pedra enrugada e musgosa,
onde pode caber uma rosa, esculpida por uma mão divina.
Maria Elisa Ribeiro
NOV/016
Sem comentários:
Enviar um comentário