SAIA DA NEGRA DOR
Um vulto estranho no alto do monte.
Qual sibila a cintilar em seu longo vestido negro,
com um lenço a acenar ao mar que lhe está defronte,
saia comprida, rodada, que não cessa de abanar,
quase espectral, misteriosa, uma mulher transparente
parece conversar com as revoltadas ondas
do
mar-de-todos-os-mares.
Cabelos longos, revoltos como teias de aranha dos séculos,
não ouço o que diz…
…mas parece que o mar está revoltado com este quadro
que sabe ser o resultado de uma dor nacional
a passar pela pobre mulher, estranho ser…
E ouço o que não sei se é real!
“-Fala, mar,diz onde está o meu amigo
que não canso de esperar.”
Nem sempre o mar tem vontade de responder!
Consciente de ter aberto cavernas
no peito de tantos
seres com lenços-brancos-a-acenar,
limita-se a rugir e a amedrontar,
pois a ele basta ver sofrer, para continuar-a-ser-mar.
“-Fala, mar, diz se já vem meu amor,
que não consigo ver chegar.”
Maria Elisa Ribeiro
JLH/018
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