APELO…
Foi-se acercando a
Noite…catedral de meio mundo.
Lento era seu caminhar carregado de sonhos
por viver…
Pelo luar iluminada, pelas estrelas acarinhada,
espalhava desejo, de coisa
quase sagrada!
E eu senti-o…
o chamamento dos deuses do firmamento
primitivo…
Não se explica um APELO, mediaticamente simbólico,
cósmico, rizomático, original…
Mas é bem fácil
vivê-lo, na plenitude da consciência
dos Sentidos ,a ferver,
ousados…
…na ponta da tua
sapiência melódica!
E encontro-me no paraíso do bulir das tuas mãos
confusas…suadas … sabiamente atrapalhadas
no caminho do prazer…
Olhares cúmplices…corpos entrelaçados…
… despontam gigantescos aromas
que nos fazem sucumbir!
Confundimos nossa
pele…trocámos língua por língua…
De teus dedos, já nem sei…
sinto-os na minha ínsua…
Aparecem paraísos, espalhados por meu corpo,
que deslizam já perdidos no meio do amor louco…
Águas transparentes de lisas brancas areias
atrevem-se a navegar por minhas fendas, orgulhosas!
Habituados à luta que
os genes perpetuaram
na cósmica do nosso
ser, vivo- de- ti- em- mim
até ao amanhecer…
O dia segue-se à noite.
Rodeio teu corpo…assim…
…tocas-me de leve…assim…
…e dou por mim a morrer-vivendo
debaixo de teus anseios…assim…
“Assim” , a vida respira pelos poros dilatados
libertando nossas fragrâncias,
há tanto tempo guardadas…
Desapareci, por momentos, da entidade que sou.
Foi como se uma nuvem cinzenta,
grávida de água perene,
percebesse a grandiosidade do momento, tão solene
que o mundo ACONTECEU…
No fundo da Natureza rebentam ondas de choque
do mar, zangado, ciumento, que bate sempre mais forte
nos líquenes rochosos, musgosos, quase doentes.
Tua face de maresia distante, respira meu espírito
relaxado e ofegante…
Sinto que sou vidro
quente… desfazendo-se, lentamente,
na plenitude
ondulante de um movimento alternado,
que voa das estrelas
para o mar…
do mar para as copas
das árvores…
das árvores para
farrapos de nevoeiro…
de mim para ti,
inteiro…
Um vento estrangulado pelos gemidos da vida, quase falou…
Do céu, feliz, escorregou um fio de gotas de diamantes
em forma de estrelas cadentes, orgulhosas e brilhantes!
… A Noite calou-se…
A Vida aconteceu…
©Maria
Elisa R. Ribeiro
Junho 2018
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