ANÉMONA-BAILARINA
Sem cenários áridos, ocos, vazios cintila a atmosfera clara
no ONDE as palavras têm um rumor de arvoredos
sacode as águas vivas que vejo, perturbada,
através das velhas frestas da casa arruinada
As flores no ventre da terra oferecem à vida os estames
que rebentam em luz e cor
a alegrar os campos e as árvores
As Palavras habitam espaços inimagináveis
tais anémonas-bailarinas no tronco de vento,
que lhes mostra as vértebras e o coração brilhante
da terra-húmus faminta.
As anémonas- bailarinas precisam de vento para dançar
no meio das searas cobertas de papoilas,
tal como fazemos nós
no tempo desse vermelho-oiro. Como elas, não tenho medo
do amor
e pouso a tua mão devagar sobre o peito da terra que
mata as suas pétalas...e as do linho e da genciana...das ervilhas-de-cheiro
...das campainhas azuis...
Que aconteceu às Palavras? Como vou chamar por elas, se as escondem e
sem elas, nem os silêncios têm nome?
©Maria Elisa Ribeiro
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2022
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