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“Portalegre, 13 de Março de 1952
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Meu querido Sena:
Você... Você é o diabo!
A sua sensibilidade e a sua susceptibilidade já devem ter feito sofrer bastante, e muito mais o farão sofrer ainda, (diz-lho um homem mais velho) neste campo de lutas, intrigas, desenganos, e também algumas consolações, que é a vida literária social.
(...)
Confesso — desculpe-me — confesso que não me lembrei do seu “Posfácio” ao redigir o meu artigo da “Vértice”. Aquela “prosa pessoal e ornamental” (Ah, Jorge de Sena, aqui há um bocadinho de maldade sua... e de ressentimento meu ao lembrar-lho!) correspondia tanto ao sentido e pensado por mim próprio... que me não lembrei de ninguém mais ao escrevê-la. E no que nela digo “nunca nós poderíamos ter discordado”, porque sempre senti, e pensei, o que nela digo.
(...)
De que se queixa então Você? De não o ter citado? Se é isso, — diga-mo francamente. Sim, porventura o deveria eu ter citado: porque nunca devemos esquecer, “perante o público”, aqueles que facilmente o público esquece, ou até desconhece, ou simplesmente não entende. Mas, como já lhe confessei, no calor de me exprimir eu próprio esqueci que já outros haviam exprimido (o que só me serviria de reforço) uma posição idêntica. Não me acusa a consciência de nenhuma outra culpa. Mas lamento que, embora inocentemente, haja incorrido numa injustiça de que variadíssimas vezes me tenho julgado vítima eu próprio.
(...)”
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Carta de José Régio a Jorge de Sena, in Correspondência, Círculo de Leitores, 1994, p. 254-256.
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Imagem:
Jorge de Sena, foto de Fernando Lemos
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Todas as reações:
2Tu e Evy Eden Martins
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