OS NOSSOS ANTIGOS SERÕES
Numa onda de frio veludo há vacilações, coisas sem vértices nem ângulos
ou dimensões.
Ao mesmo tempo que nascem , logo morrem.
As coisas que morrem não respeitam a alquimia das transformações do
ferro em ouro...
Recordo que, na infância,
à minha volta se falava do frio, do calor, do ar e da terra.
O frio quando era frio
era tremendo,
e dos ventos revoltados recordo bem
que as lareiras comiam mais lenha.
Falava-se de duendes e seres estranhos, de mastros de cordas, de velas
e de lindas sereias que, por vezes, davam à costa.
Recordo que tudo era magia na boca das velhas avós,
que eu nada compreendia
porque a imaginação era parca e pobre.
Mas ia para a cama cada vez mais rica e sabedora de lindas mentiras
que animavam os serões dos pobres.
Não esqueço os pés quentinhos até à alma;
e sentia-me longe das tempestades furiosas
que provocavam o enlace das árvores medrosas
estarrecidas ante o cristal violento que semeava os campos de granizo.
Vejo que me olhas como se nada percebesses do que te digo...
O silêncio sai-te dos olhos
sem perceberes que estou desejosa por falar
para alongar o tempo,
como fazia a menina nas noites das “Mil e uma maravilhas”...
©Maria Elisa Ribeiro
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2019
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