terça-feira, 27 de outubro de 2020

MINHA POESIA:








 DEIXA-ME SAIR DO PAPEL


Não te deites comigo, no meu silêncio…
Acorda-me, quando a noite chegada me guarda
adormecida no seu seio
e te aborda com aqueles pés de lã
que não reconhecem o vibrar das letras de um poema.
No meu sono
sinto uma poesia de amor-no-sonho-da-poesia-que-sou
no dia após-dia- do mundo solar,
herdado da dimensão inatingível de mãos tão antigas como as da noite…
…como as do vento ciumento…
…como a dos tempos Passados-no-Presente-deste-Futuro de Agora!

Acorda-me deste sono onde,
em onírico deleite, sinto tuas mãos macias e ofegantes
a saltitar pelo corpo, como insecto voador que quer amar uma flor!

Deixa que saia do papel amarelecido e mergulhe as mãos no mar de
letras, sílabas, consoantes e vogais, reticências e pontos finais
que se encontram num lago de tons claros, dourado pelas estrelas radiantes
perdidas na tua harmonia…

Permite que o meu poema não dependa de outra moral ,
que não seja a verdade das tuas mãos delirantes…
E nem permitas que as rosas vermelhas da noite,
saibam a cor do teu aroma natural…
…ou que o orvalho telúrico te afaste para outra guerra…
…ou, ainda, que outras flores desfolhem as tuas pétalas
do amanhecer, quando tudo o que saltita voa à procura de mel…

Se pudesse beber o fragor do teu amanhecer,
diria ao Sol ,
que te escondi numa torre de marfim
a cheirar a jasmim,
onde me vou fechar contigo-em-mim…

FEV/018
Maria Elisa Ribeiro

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