"As minhas palavras têm memórias ____________das palavras com que me penso, e é sempre tenso _________o momento do mistério inquietante de me escrever"
sábado, 15 de julho de 2017
OS "PANAMA PAPERS"
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23 h ·
Não está esquecido.
Os truques da imprensa portuguesa
Ontem às 17:27 ·
Então e os Panama Papers?
À maioria das pessoas, este post poderá parecer anacrónico, irrelevante, maçador e repetitivo. Os Panama Papers estão arrumados numa gaveta cada vez mais apagada da nossa memória, mas é justamente por isso que os recuperamos agora.
Este caso é - sabemo-lo bem - um dos mais relevantes e sensíveis que já abordámos nesta página. É assim para nós e é assim, sobretudo, para o grupo de comunicação social que teve a participação mais expressiva no seu acompanhamento, o grupo IMPRESA, e, particularmente, para o Expresso. É com rigor e minúcia que sempre pretendemos abordá-lo, combatendo generalizações e sensacionalismo. Iremos fazer uma breve cronologia em relação àquilo que nos diz respeito:
3 de Abril de 2016. É no início da noite de um domingo que o escândalo rebenta. Putin, Messi, Platini, Mauricio Macri (presidente da Argentina), Rei Mohammed VI (de Marrocos), Rei Salman (da Arábia Saudita), Xi Jinping (presidente da China), Jackie Chan, Petro Poroshenko (presidente da Ucrânia), Pedro Almodôvar, Nawaz Sharif (primeiro-ministro do Paquistão), Aliyev (presidente do Azerbaijão), Eduardo Cunha (presidente da Câmara dos Deputados do Brasil) eram apenas alguns dos milhares de nomes que se anunciavam. A investigação era apresentada como, provavelmente, o maior crime da História.
9 de Abril de 2016. Uma semana depois, o Expresso, que tem, com a TVI, um dos dois jornalistas portugueses do consórcio que detém o exclusivo da investigação (ICIJ), começa a divulgar a dimensão nacional do escândalo. Luís Portela (BIAL), Manuel Vilarinho (ex-presidente do Benfica), Ilídio Pinho, Ricardo Salgado e Isabel dos Santos (implicada através de um alegado representante seu) eram alguns dos nomes inicialmente anunciados. O número total de portugueses era avançado: 240. Mas, apesar de estarmos perante um mega-processo de investigação jornalística que já durava há mais de um ano, a consumação do trabalho em nomes locais exigia aos órgãos de comunicação social toda a prudência. Previsivelmente, os processos por difamação suceder-se-iam e a revelação de nomes com peso político e económico teria custos previsíveis para um grupo que, como todos, enfrenta dificuldades financeiras consideráveis. Era preciso confirmar e voltar a confirmar. Um erro seria fatal.
16 de Abril de 2016. Manuel Tarré Fernandes e José António Silva e Sousa. Eram estes os novos nomes, direta ou indiretamente implicados no escândalo. Numa nova frente de investigação, agora iniciada, são estabelecidas as primeiras ligações entre o caso Panama Papers e a Operação Marquês. Segundo o Expresso, 12 milhões de euros tinham sido transferidos por Ricardo Salgado para o ex-primeiro-ministro. Esse dinheiro teria tido passagem pela ES Enterprises (uma offshore do GES), Helder Bataglia, Joaquim Barroca e, por fim, Carlos Santos Silva. As supostas ligações entre o Panama Papers e o grupo Espírito Santo são o turning point desta história.
23 de Abril de 2016. “Panama Papers: Lista do Saco Azul do GES com avenças a políticos” era a manchete. Uma lista com mais de uma centena de nomes, na posse do Ministério Público desde 2015, pré-anunciava um novo escândalo: “várias pessoas influentes, incluindo autarcas, funcionários públicos, gestores, empresários e jornalistas” terão recebido avenças de Ricardo Salgado e esse dinheiro tinha proveniência ou passagem pela ES Enterprises, a mesma offshore referida na semana anterior. “Há valores elevados e pequenos pagamentos feitos regularmente” para “contas offshore de beneficiários”, “em numerário em envelopes.
Há um detalhe que consideramos relevante. Ao contrário de todas as notícias publicadas até este dia sobre o escândalo, esta notícia deixava de ser assinada apenas pelos dois jornalistas do Consórcio Internacional de Jornalistas de Investigação (ICIJ). Rui Araújo (TVI) deixava de assinar. Micael Pereira (Expresso) mantinha-se. Entravam como autores Pedro Santos Guerreiro (diretor do Expresso), João Vieira Pereira e João Ramos. Provavelmente, o cruzamento com a investigação ao Grupo Espírito Santo assim o obrigara.
26 de Abril de 2016. Perante a gravidade das revelações, o Sindicato dos Jornalistas emite um comunicado onde pede ao Expresso que aja com responsabilidade. “(…) Lamenta que o semanário tenha posto em causa todos os jornalistas, ao não identificar aqueles que, segundo afirma, constarão de uma lista de alegados envolvidos numa investigação ao Grupo Espírito Santo (GES).”
28 de Abril de 2016. Pedro Santos Guerreiro responde ao Sindicato e explica que “o critério foi, é e será sempre idêntico em relação à revelação de nomes: só quando o trabalho jornalístico de recolha de fontes, confirmação, contraditório e audição de partes atendíveis o permite publicamos nomes.” Sublinha ainda que nas investigações em causa”todos os nomes têm sido publicados logo que o trabalho de confirmação esteja concluído mas nunca antes disso.” Assim seria, também, com esta. “O Expresso não deixa que os seus critérios editoriais sejam alterados por pressões, (…) a informação será publicada no momento em que o trabalho de investigação estiver concluído, ainda que isso implique sujeitarmo-nos à análise crítica de alguns, que respeitamos mas que não nos condiciona.”
Entretanto, a 1 de Maio, a direção do jornal foi forçada a um pedido de desculpas a pessoas que tinha, indevidamente, implicado no escândalo: Filipe de Botton, Alexandre Relvas e Carlos Monteiro (dois dos quais accionistas do Observador). Os erros indesejáveis para uma investigação que se pretendia impecável começam, mas o pior ainda viria. Com a passagem do tempo, as pontas deixadas soltas pelo texto de 23 de Abril nunca mais foram encerradas e lançaram um anátema insustentável para todo o jornalismo e para todos os jornalistas. A paciência dos leitores foi-se esgotando: “Então e os Panama Papers? Então e os Panama Papers?”. A espaços, o Expresso foi-se defendendo de forma inconsistente e pouco credível: “Está tudo no site do ICIJ! Essa investigação não pertence aos Panama Papers do ICIJ!” - diziam. Pois! É verdade! Trata-se de uma investigação “cruzada” com os Panama Papers e de uma lista que, supostamente, está no Ministério Público e que o Expresso está a confirmar. Já sabíamos. Mas então e o resultados prometidos, onde estão?
O caso foi arrefecendo, mas não está esquecido. Há jornalistas em que depositamos a nossa confiança e que, no passado, terão recebido avenças em offshores. A suspeita é grave e não há alternativa: têm de ser revelados os seus nomes.
O nosso objectivo não é fazer o Expresso "arder" à custa disto, nem nos cabe a nós fazer qualquer juízo. Não queremos pôr em causa, sem nada que o prove, o profissionalismo ou a qualidade dos jornalistas envolvidos. Queremos, para já, explicações transparentes por parte do Expresso. Queremos, se for caso disso, um pedido de desculpas que reponha a verdade e que devolva credibilidade ao jornal. Queremos as respostas que tardam em chegar e que consideramos urgentes.
Passaram 448 dias.
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