domingo, 9 de julho de 2017

OPINIÃO

G20 ou G0

9 de Julho de 2017, 7:10
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1. “Tem alguma coisa em casa Made in Russia?”. A pergunta, fez-ma Chris Patten, o último governador de Hong-Kong e um dos mais brilhantes políticos britânicos, e nunca mais me saiu da memória. Foi durante uma entrevista há já um bom par de anos sobre as grandes tendências do poder mundial. Não tenho nada em casa Made in Russia e compro imensas coisas Made in China. A ideia de Patten sobre o poder real da Rússia de Putin tem, aliás, um longo historial. Uma das razões – se não a principal – pelas quais o império soviético implodiu foi, precisamente, esta. Gorbatchev percebeu uma coisa muito simples: que, para manter o equilíbrio de poder militar com os Estados Unidos, a Rússia precisava de uma economia capaz de ombrear com a economia americana. Nos anos 1980, isso já era visivelmente impossível. O poderio militar soviético absorvia uma parte enorme do PIB à custa da pobreza generalizada. Os Estados Unidos de Reagan, não apenas conseguiram regressar ao seu enorme vigor económico, como anunciaram (um pouco exageradamente) a nova “guerra das estrelas” (mísseis antimísseis), que anularia qualquer veleidade soviética. Era impossível enfrentar um país ao qual bastavam 4% do PIB para financiar um poder militar tecnologicamente imbatível. Conhecemos a história do que se seguiu com o fim da Guerra Fria e a convicção (ingénua?) de que o destino da Rússia seria aproximar-se do Ocidente. O poder de Putin assentou, desde a primeira hora, na devolução à Rússia do seu estatuto de “superpotência”, capaz de desafiar a América, pondo fim à “humilhação” dos primeiros anos do pós-Guerra Fria. Levou sua nova visão da ordem internacional até ao fim, testando-a na Georgia, em 2008, à qual o Ocidente ligou menos do que devia, e outra vez na Ucrânia, infringindo todas as leis internacionais do pós-guerra. Mantém uma ameaça velada aos países da Europa central e de leste, insistindo que fazem parte da sua esfera de influência e pondo à prova a vontade da NATO de os defender. Vale a pena lembrar tudo isto, para saber exactamente onde estamos.
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2. Ontem, o encontro entre Trump e Putin, que durou mais de duas horas e que contou com a presença dos respectivos chefes da diplomacia, voltou a dar ao Presidente russo aquilo que ele quer mais do que tudo: um estatuto de primeiro plano na liderança do mundo. Mas, tal como Gorbatchev, Putin lidera uma potência com pés de barro, mesmo que com um arsenal nuclear ainda invejável (ainda que inutilizável, como aconteceu na Guerra Fria). O problema é o mesmo: a economia. A Rússia é a 12.ª potência económica, ultrapassada até pelo Brasil com idêntica população. A economia vive do sector energético. A demografia (com índices de mortalidade próprios dos países mais atrasados) é outro calcanhar de Aquiles. Com uma agravante. A Rússia continua isolada internacionalmente por causa da Ucrânia - contam-se pelos dedos de uma mão os países que reconheceram a ocupação da Crimeia. Patten tinha razão.
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1. “Tem alguma coisa em casa Made in Russia?”. A pergunta, fez-ma Chris Patten, o último governador de Hong-Kong e um dos mais brilhantes políticos britânicos, e nunca mais me saiu da memória. Foi durante uma entrevista há já um bom par de anos sobre as grandes tendências do poder mundial. Não tenho nada em casa Made in Russia e compro imensas coisas Made in China. A ideia de Patten sobre o poder real da Rússia de Putin tem, aliás, um longo historial. Uma das razões – se não a principal – pelas quais o império soviético implodiu foi, precisamente, esta. Gorbatchev percebeu uma coisa muito simples: que, para manter o equilíbrio de poder militar com os Estados Unidos, a Rússia precisava de uma economia capaz de ombrear com a economia americana. Nos anos 1980, isso já era visivelmente impossível. O poderio militar soviético absorvia uma parte enorme do PIB à custa da pobreza generalizada. Os Estados Unidos de Reagan, não apenas conseguiram regressar ao seu enorme vigor económico, como anunciaram (um pouco exageradamente) a nova “guerra das estrelas” (mísseis antimísseis), que anularia qualquer veleidade soviética. Era impossível enfrentar um país ao qual bastavam 4% do PIB para financiar um poder militar tecnologicamente imbatível. Conhecemos a história do que se seguiu com o fim da Guerra Fria e a convicção (ingénua?) de que o destino da Rússia seria aproximar-se do Ocidente. O poder de Putin assentou, desde a primeira hora, na devolução à Rússia do seu estatuto de “superpotência”, capaz de desafiar a América, pondo fim à “humilhação” dos primeiros anos do pós-Guerra Fria. Levou sua nova visão da ordem internacional até ao fim, testando-a na Georgia, em 2008, à qual o Ocidente ligou menos do que devia, e outra vez na Ucrânia, infringindo todas as leis internacionais do pós-guerra. Mantém uma ameaça velada aos países da Europa central e de leste, insistindo que fazem parte da sua esfera de influência e pondo à prova a vontade da NATO de os defender. Vale a pena lembrar tudo isto, para saber exactamente onde estamos.
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2. Ontem, o encontro entre Trump e Putin, que durou mais de duas horas e que contou com a presença dos respectivos chefes da diplomacia, voltou a dar ao Presidente russo aquilo que ele quer mais do que tudo: um estatuto de primeiro plano na liderança do mundo. Mas, tal como Gorbatchev, Putin lidera uma potência com pés de barro, mesmo que com um arsenal nuclear ainda invejável (ainda que inutilizável, como aconteceu na Guerra Fria). O problema é o mesmo: a economia. A Rússia é a 12.ª potência económica, ultrapassada até pelo Brasil com idêntica população. A economia vive do sector energético. A demografia (com índices de mortalidade próprios dos países mais atrasados) é outro calcanhar de Aquiles. Com uma agravante. A Rússia continua isolada internacionalmente por causa da Ucrânia - contam-se pelos dedos de uma mão os países que reconheceram a ocupação da Crimeia. Patten tinha razão.
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2. Ontem, o encontro entre Trump e Putin, que durou mais de duas horas e que contou com a presença dos respectivos chefes da diplomacia, voltou a dar ao Presidente russo aquilo que ele quer mais do que tudo: um estatuto de primeiro plano na liderança do mundo. Mas, tal como Gorbatchev, Putin lidera uma potência com pés de barro, mesmo que com um arsenal nuclear ainda invejável (ainda que inutilizável, como aconteceu na Guerra Fria). O problema é o mesmo: a economia. A Rússia é a 12.ª potência económica, ultrapassada até pelo Brasil com idêntica população. A economia vive do sector energético. A demografia (com índices de mortalidade próprios dos países mais atrasados) é outro calcanhar de Aquiles. Com uma agravante. A Rússia continua isolada internacionalmente por causa da Ucrânia - contam-se pelos dedos de uma mão os países que reconheceram a ocupação da Crimeia. Patten tinha razão.

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