terça-feira, 22 de setembro de 2015

Editorial do jornal "Público"- Portugal


EDITORIAL
E o “resolver o problema na origem”?


DIRECÇÃO EDITORIAL

21/09/2015 - 07:47


Esta será uma semana decisiva para saber como a Europa lidará com a crise dos refugiados.




6







TÓPICOS

Conselho Europeu
Europa
Hungria
Sérvia
Croácia
Médio Oriente
Síria
Bashar al-Assad
Viktor Orbán
União Europeia
Migração
Demografia
Imigração
II Guerra Mundial
Refugiados
Editorial
Estado Islâmico
Donald Tusk
questões sociais
Mediterrâneo




Podem já não ser capa dos jornais em todo o mundo, mas os naufrágios no Mediterrâneo continuam, e ainda ontem pelo menos 13 pessoas — entre elas algumas crianças — morreram quando um barco de refugiados se afundou após colidir com um ferry, ao largo da Turquia. O barco seguia em direcção a Lesbos, a mesma ilha ao largo da qual no sábado uma rapariga de cinco anos e mais 11 pessoas morreram num outro naufrágio.

É já amanhã que os ministros do Interior da União Europeia voltam a reunir-se para debater (e decidir alguma coisa, espera-se) sobre a crise dos refugiados, depois de uma reunião a 14 de Setembro que foi inconclusiva sobre o tema da realocação de 160 mil refugiados que permanecem em campos de acolhimento. Para o dia seguinte, e para evitar novos embaraços, Donald Tusk convocou uma cimeira de líderes para debater (e decidir alguma coisa, espera-se) sobre a forma como lidar com o fluxo anormal de imigrantes.

Já se percebeu que a resposta ao problema terá de ser comum. Basta ver o jogo do empurra da Hungria, primeiro com a Sérvia e agora com a Croácia, e os arames farpados que Viktor Orbán continua orgulhosamente a espalhar ao longo da fronteira da União.

Olhando para a agenda do Conselho Europeu, estará naturalmente em discussão uma política comum para lidar com os refugiados, e a possibilidade de aumentar a ajuda financeira a organizações como o Programa Alimentar Mundial ou o ACNUR. Na agenda dos ministros do Interior falta decidir o esquema (obrigatório, espera-se) de quotas, dar mais fundos à agência Frontex e elaborar uma lista dos chamados “países seguros”, cujos migrantes não poderão requerer asilo.

Mesmo admitindo que será tudo aprovado, fica a sensação de que só um Inverno rigoroso travará os migrantes, porque o problema de fundo continua por resolver. E que problema é esse? Chama-se Síria e foi por isso que Juncker, lembrando que o conflito no país de Assad já dura há quatro anos, veio dizer que, "enquanto houver guerra, a crise de refugiados não vai simplesmente desaparecer". O problema dos refugiados não se esgota na Síria, mas basta ler a análise do The Washington Post publicada hoje no PÚBLICO para perceber que, das oito razões aventadas para explicar a maior vaga de migração desde a II Guerra Mundial, quase todas incluem a Síria: a guerra, o regime de Bashar al-Assad e o terrorismo no território por parte do autoproclamado Estado Islâmico. O jornal norte-americano recorda que, sem os sírios, o fluxo de pessoas à procura de um santuário na Europa seria mais ou menos igual ao do ano passado.

Na agenda do Conselho Europeu fala-se em “aumentar a cooperação com o Médio Oriente”, mas será sempre insuficiente, já que o problema da Síria não se resolve em Damasco, mas sim com diplomacia musculada em Moscovo, que continua a dar armas ao regime supostamente para combater os terroristas. As mesmas que Bashar al-Assad usará para se defender no dia em que o Ocidente resolver lidar com o problema dos refugiados na origem.

Sem comentários:

Enviar um comentário