quarta-feira, 26 de fevereiro de 2014

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Desvio dos teus ombros o lençol,/ que é feito de ternura amarrotada,/ da frescura que vem depois do sol,/ quando depois do sol não vem mais nada.../ / Olho a roupa no chão: que tempestade!/ Há restos...
Nem todo o corpo é carne... Não, nem todo/ Que dizer do pescoço, às vezes mármore,/ às vezes linho, lago, tronco de árvore,/ nuvem, ou ave, ao tacto sempre pouco...?/ / E o ventre, inconsistente como...
Talvez houvesse uma flor/ aberta na tua mão./ Podia ter sido amor,/ e foi apenas traição./ / É tão negro o labirinto/ que vai dar à tua rua .../ Ai de mim, que nem pressinto/ a cor dos ombros da Lua!...
Poema
David Mourão-FerreiraPortugal
1927 // 1996Poeta/Escritor




Noite Apressada

Era uma noite apressada
depois de um dia tão lento.
Era uma rosa encarnada
aberta nesse momento.
Era uma boca fechada
sob a mordaça de um lenço.
Era afinal quase nada,
e tudo parecia imenso!

Imensa, a casa perdida
no meio do vendaval;
imensa, a linha da vida
no seu desenho mortal;
imensa, na despedida,
a certeza do final.

Era uma haste inclinada
sob o capricho do vento.
Era a minh'alma, dobrada,
dentro do teu pensamento.
Era uma igreja assaltada,
mas que cheirava a incenso.
Era afinal quase nada,
e tudo parecia imenso!

Imensa, a luz proibida
no centro da catedral;
imensa, a voz diluída
além do bem e do mal;
imensa, por toda a vida,
uma descrença total!

David Mourão-Ferreira, in "À Guitarra e à Viola"

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