domingo, 16 de maio de 2010

POESIA ÁRABE MEDIEVAL vs “O Cântico dos Cânticos” vs POESIA PENINSULAR

Embora não se fale nisso, a verdade é que a LITERATURA PORTUGUESA, no campo LÍRICO/POÉTICO sofreu grandes influências do período em que o povo e a civilização árabes se estabeleceram na Península Ibérica.
Há anos, fez parte do programa de Português dos 10ºs anos uma leitura abrangente e extensiva de alguns poetas á rabes, que li com os meus alunos e ajudei a interpretar, com o maior gosto e profissionalismo. Descobri uma Poesia linda, doce e comovente no tratamento da Mulher, como hoje não vejo, em muitos países. A temática lembrava a do “Cântico dos Cânticos”, do ANTIGO TESTAMENTO, que, segundo a lenda e/ou alguns estudiosos, é atribuído ao REI SALOMÂO, mas que outros dizem ser do século IV A.C.
Voltemos à poesia árabe: alguns dos poetas estudados, com seus poemas menos difíceis de interpretar, foram: IBN SARA (nascido em SANTARÉM, em 1123), IBN AMM-ar( SILVES,1031),AL- MU TAMID( BEJA,1040),IBN –Sid( SILVES,1052), AL –Kumait al Garbi(Xi) e tantos outros…Pelas datas de nascimento se pode ver que viveram e poetaram ainda a tempo de influenciarem a poesia trovadoresca portuguesa, que mais se aperfeiçoou dos séculos XII a XIV.
Há, na temática da Poesia Árabe peninsular –ou hispano/árabe - como também se diz- dos primeiros tempos da península ibérica, duas culturas distintas. Por um lado, lembrando as suas origens geográficas, os poetas árabes trataram a imensidão do deserto e dos seus areais e dunas, escaldantes durante o dia e gélidas durante a noite, o fascinante céu estrelado e luarento, as horas de cavalgadas dramáticas à procura de oásis, as lutas entre tribos e senhores, tanto pelo poder, como pelo orgulho autóctone e, inclusivamente, por motivos religiosos.
Por outro lado, os poetas árabes demonstram, aberta e declaradamente, o seu amor pela Natureza-MÃE e pelos quatro elementos da formação do mundo (TERRA, AR, FOGO e ÁGUA); aludem com respeito à fauna e à flora, às montanhas verdes, ao mar, etc
( É claro que ,nesses tempos não havia plásticos, papéis e excursões a tudo quanto é sítio, com as consequências para o meio ambiente, que nós tão bem conhecemos…)
Assim sendo, por exemplo no amor, a amada era a gazela graciosa ou a flor cheirosa que embriagava os sentidos, a separação dos apaixonados era um corvo negro, a morte era a flor murcha pela passagem do tempo…o rei era o leão forte e poderoso…
Os temas poéticos são de todos os tempos… com um enquadramento histórico e cultural diferente, como é claro! Não faltava, nessa poesia, o encontro fortuito dos apaixonados sob as estrelas, os raios de luar, a beira do deserto, a tenda do guerreiro e a beira das águas de rios ou lagos e/ou mesmo o mar; ainda o pôr –do- sol, o som das cimitarras dos combates, o quentinho de uma fogueira nas noites gélidas do deserto…
De tal modo as paisagens europeias impressionaram os povos árabes que os seus poetas, absorvendo os nossos motivos poéticos- os europeus!-poetizaram tudo, como já atrás disse, à moda do “Cântico dos Cânticos”! Ali, nesse poema do Antigo Testamento, tudo é imagético e/ou metafórico e muitas Imagens nele existentes geraram uma temática árabe igual.Recorde-se, também, que por esses tempos, grande parte da população árabe movimentava-se por todos os espaços, nomeadamente pelos desertos do Egipto e da Península arábica, bem como pelos vales de Jericó e do Líbano. Assim sendo e dado que o seu profeta MAOMÉ conhecia muito bem a Biblia, os seus ensinamentos ajudaram que estes povos espalhassem a sua cultura e os seus usos, costumes, tradições e ideias, religiosas e não só. Não conheço a moderna POESIA ÁRABE; lamento, porque amo esta civilização. Deste modo, transcrevo, neste artigo, “um CHEIRINHO” da poesia árabe que eu li e estudei, por gosto próprio.

“A AMADA”

Ela é uma frágil gazela:
Olhares de narciso
Acenos de açucena
Sorriso de margarida.

E se seus brincos se agitam
Quedam-se os braceletes* na escuta
Da música no requebro da cintura.

*”braceletes “ era do género masculino, na era medieval.

Ibn’AMM-ar


“Um AMOR CASTO”

Quantas vezes a amada me veio ver;
Negra era a noite como o seu cabelo.
Junto a mim ficou até ao romper da alva
Tão refulgente como o seu rosto claro.
(…)
Mas permaneci casto,
Homem senhor da sua força:
Só tem virtude verdadeira
Quem a si se vence no vigor.



IBN-SARA



BIBLIOGRAFIA
David MOURÂO- FERREIRA, “Imagens da Poesia Europeia”, ARTIS (1970)
ALVES, Adalberto- “O Meu Coração é Árabe”---?
DINIZ, Mª Augusta (1994): “A Literatura Popular: uma forma de sabedoria, CadNº8, OUTUBRO
MOISÉS , Massaud (1974)- “A Literatura Portuguesa”, S. Paulo,ED. CULTRIX

NOTA: ficaria muito feliz ,se pudesse fazer uma abordagem da POESIA HEBRAICA.Mas não encontrei nada ,nas livrarias, sobre este assunto.

16 comentários:

  1. Que aula boa!
    Adorei aprender um pouquinho sobre a poesia árabe e de fato os poemas que publicou aqui são amorosos e enaltecem a amada.
    beijos

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  2. É sempre um prazer enorme passar por aqui e ler excelentes textos.

    Grato pela partilha.

    Beijo.

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  3. ANGELA: é o que eu sempre digo! Todos temos um pouquinho a dar aos outros, com toda a humildade e o saber não ocupa lugar...
    Beijinho

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  4. MANUEL MARQUES: muito grata fico eu por o amigo estar sempre tão atento!
    BEIJO
    LUSIBERO

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  5. Minha Querida
    Valeu a pena vir hoje aqui (aliás...vale sempre a pena...)mas hoje focaste um tema que eu gosto e brilhantemente: a civilização árabe, os seus escritores e poetas! Lembrei-me dos tempos de estudante com uma professora extraordinária (como tu) que me incutiu este gosto por uma literatura que acho doce, cheia de simbologismo, delicada no trato com todos, principalmente com mulher como dizes e bem...Outros tempos...
    " Levanta-te, vento do Norte,
    vem tu, vento do sul,
    sopra no meu jardim
    para que se espalhem os meus perefumes.
    Entre o meu amado no seu jardim,
    prove os seus frutos deliciosos."
    (Cântico dos cânticos)
    Utilizo muitas vezes passagens daqui para as cerimónias de casamento...quando me pedem para fazer os livrinhos para o "Grande Dia"
    Beijos amigos... e vou feliz "saltando como uma gazela"
    Graça

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  6. É sempre bom enaltecer grandes figuras árabes que nasceram nas nossas terras. Não me canso de dizer o mesmo, mas, geralmente tomam-se os muçulmanos que habitavam na península por “bárbaros” mas quando se começa a adentrar mais na sua cultura depressa se chega à conclusão que os bárbaros foram os cristão que os combateram.
    Parabéns Maria

    Poesia Hebraica…Humm… Já nos legaram o Antigo Testamento e mesmo assim nem é original seu :)

    Abraços, caríssima.

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  7. Minha "gazela" querida: vale a pena o trabalho, quando os amigos t~em palavras tão gratificantes para nos oferecer! Ainda bem que gostaste, porque eu pensava que era insuficiente, uma vez que, para o texto não ficar grande demais não falei na poesia árabe , AS MUAXÁS" que parece terem influenciado ,grandemente, os nossos trovadores. Mas ,como eu queria dar visão à poesia árabe...fica para outra vez!
    eu sei que um texto sobre as matérias que tenho apresentado, tem que ser grande, por força! Mas noto também que muitos não comentam ,porque é preciso ler aquilo tudo. Só que para fazer um trabalho incompetente... então não o faço.
    Beijos , Gracinha

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  8. AZOTH: a igreja católica ajudou muito a difundir essa ideia dos "bárbaros", " infiéis", etc.
    Lembra-se do AUTO de GIL VICENTE "Auto da BARCA do INFERNO"?
    Lembra-se que todos "os tipos" de pecadores foram julgados ...excepto o tipo "QUATRO CAVALEIROS"?E porquê? Ora ,porque eles mataram os infiéis, muuuuuitos "bárbaros" e "infiéis"
    OS tais que nos deixaram a Numeração que hoje usamos... por exemplo!
    Beijo FRATERNO, AZOTH
    LUSIBERO

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  9. Minha Querida Amiga,
    Arrisco um comentário, de um indivíduo com formação na área de Ciências, com lacunas, mais que evidentes, na área de Letras...
    Ler e escrever é, no entanto, aprender...
    Gostei de ler, e aprender, algo mais,sobre a poesia e civilização árabe.
    Silves, é um exemplo emblemático, com a sua inusitada "PRAÇA AL MOUHATAMID IBN ABBAD", em homenagem a este REI/POETA:1051-1091, que nasceu em Beja, governou Silves e faleceu em Marrakech.
    Seu seguidor atento,
    Jorge

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  10. Meu caro colega JORGE: um grande "muito obrigada" pela achega que deu a esta matéria!
    Eu tinha planeado publicar um poema de AL-MUTAMID; só não o fiz porque era muito grande e aumentava muito o artigo. Muito grata, JORGE!
    UM ABRAÇO AMIGO de Mª ELISA

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  11. Maria Elisa, amiga, hoje ganhei duas lições: há pouco, o seu comentário no poema que publiquei hoje que, grato pela atenção dedicada, agradeço reconhecido; agora, este passeio tão interessante pela civilização árabe que, apesar das inquestionáveis influências na nossa cultura, é tão pouco divulgada. Bem haja por este "serviço público" tão relevante.
    Beijinho

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  12. Vir a este Blog, é como ir a uma aula
    de cultura geral.....
    E a imagem inicial, é muito muito bela...
    Beijo

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  13. QUICAS: o meu comentário ao seu poema , foi fruto do que senti ,ao lê-lo!
    Obrigada, também, pelas suas amáveis palavras. É que eu entendo que nos nossos blogs, devemos todos dar, uns aos outros ,um pouco do que sabemos...Eu não sei nada de Matemática...
    BEIJINHO DE Mª ELISA

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  14. Andradarte: obrigada pelas suas palavras!
    olhe, a foto do meu blog é de um sítio que o amigo, de certeza, conhece...Tirei-a no ano passado, num lindo dia de Sol, a um ângulo do PALACE HOTEL DO BUÇACO...
    BEIJO DE Mª ELISA

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  15. Tanto que não sei, e venho beber aqui...

    Beijos!!

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  16. VEM SEMPRE QUE PUDERES...
    terei sp. qualquer coisa para ti...
    BEIjos
    LUSIBERO

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