segunda-feira, 23 de setembro de 2024

De Bertrand RUSSEL

 Imagine a vida dos nossos ancestrais nas cavernas. Acordavam de manhã, saíam para caçar um mamute ou algo menor, mas sempre com a possibilidade de que, a qualquer momento, se tornassem o prato principal de algum predador. E acredite, estar na lista de “potenciais almoços” certamente mantinha o pessoal da caverna ocupado. O tédio, naquele tempo, devia ser tão raro quanto uma fogueira acesa durante uma tempestade.

E aí eu penso: o ser humano passou milênios tendo uma vida superagitada, cheia de adrenalina e emoções fortes. E hoje? Bem, não corremos mais de tigres-dentes-de-sabre, mas parece que a nossa busca por emoções fortes continua. Talvez porque, sem essa faísca de perigo, sobra aquele inimigo silencioso: o enfado.
Pense na Idade Média, aquela época que a gente romantiza nos filmes, mas que, na prática... devia ser um saco! A maioria dos camponeses não sabia ler nem escrever, a higiene era questionável e a iluminação noturna era garantida por uma solitária vela que, com sorte, não apagava com o vento. Quem viveu naquela época certamente precisou se virar para driblar o tédio. Daí, quem sabe, a “ideia brilhante” da caça às bruxas. No fundo, talvez fosse apenas uma maneira desesperada de adicionar alguma emoção àquela monotonia rural. Afinal, o que você faria se tivesse que passar todas as noites ouvindo o som da sua própria respiração?
E antes disso, Roma já tinha solucionado o problema do tédio com os coliseus, onde lutas mortais eram o entretenimento da galera. Sangue? Violência? O pacote completo de adrenalina para uma plateia sedenta. Hoje em dia, não somos tão diferentes assim. Só trocamos os gladiadores por jogadores de futebol e os leões por baladas lotadas, drogas, álcool e esportes radicais. Porque, vamos combinar, a vida quieta e pacata não é para qualquer um.
A busca por agitação está no nosso DNA. O famoso “fogo no parquinho” que anima qualquer grupo é quase um instinto primitivo que herdamos dos nossos antepassados, sempre à beira do perigo. E se você tem grana, a lista de opções para fugir do tédio é interminável: viagens internacionais, jantares exóticos, hobbies extravagantes — qualquer coisa para manter a vida em movimento. Já para quem vive no limite do orçamento, a solução é um pouco mais criativa: da novela ao futebol de domingo, até uma briguinha de casal no meio da semana. Quem nunca viu um casal que começa uma discussão aparentemente do nada? Talvez seja só uma forma de dar uma chacoalhada na rotina.
Mas, olha só, vamos ser sinceros por um minuto: viver uma vida constantemente agitada também cansa. Às vezes, o que precisamos mesmo é... nada. Literalmente. Aceitar que o tédio está ali, firme e forte, pronto para nos fazer encarar a parede e pensar em absolutamente coisa nenhuma. Afinal, quem aguenta viver no modo adrenalina 24/7?
E cá entre nós… Se os nossos antepassados sobreviveram ao enfado entre uma caçada e outra, acho que a gente consegue sobreviver a um fim de semana sem uma festa, né?
— Alessander Raker Stehling
Pode ser uma imagem de 1 pessoa e a texto que diz "Bertrand Russell "É possível que um certo grau de enfado seja um ingrediente necessário da vida.""
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