PARA ALÉM
Para além do lume das estrelas a iluminar-me a ponta dos dedos...
...para além do inevitável esvoaçar dos pássaros por dentro dos meus olhos...
...para além das memórias que me partiram o velho espelho...
das papoulas na seara-do-grão-pujante
a rebentar como jóia rara...
...para além das cegonhas que passeiam felizes a entregar cestas com lindos bebés,
há as palavras que acabo de escrever e o extremo cuidado com que toco
no corpo das letras,
com esta voz calada que se alegra a desenhá-las.
Sob o lençol cansado de mais um dia para além do dia anterior,
há a noite em que as árvores adormecem sós,
em que as pedras duras não caminham na geometria de linhas sem pontos
e em que a alquimia das flores é sempre e só o aroma das pequenas alegrias
trabalhadas em potes de magia.
Por fim,
há a minha solidão...
tão só
que mete dó
não tê-la abraçada a ti...
©Maria Elisa Ribeiro
FEV/023
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