segunda-feira, 29 de outubro de 2018

Poema de Valter Hugo Mãe

o homem que já não sou

não me olhes agora que estou 
mais velho e não correspondo em 
nada ao homem que 
amaste, procura encarar a tristeza 
sem me incluíres, seria demasiado 
cruel que me usasses para a 
dor. para ti 
quis trazer as coisas mais belas 
e em tudo o que fiz pus o 
cuidado meticuloso de quem 
ama. não me obrigues a cortar os 
pulsos quando fores num minuto ao 
jardim com o cão 

esta noite, sem notares, sustive a 
respiração e quase morri. não deste 
por nada. julgaste que voltei a 
ressonar e até terás esboçado um 
sorriso. e se eu pudesse morrer 
enquanto sorris, pergunto 

deixo para depois, ou talvez 
desista. mas não pode ser se 
tu me olhares em busca de tudo o que 
já não existe. não pode ser, levo a 
faca maior para debaixo do meu 
travesseiro, juro-te que me 
mato se continuares assim 

valter hugo mãe, in 'contabilidade' 

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