INTERROGAÇÕES-DE-SEMPRE
Saberá o mar que quando o meu olhar lhe entra no
ritmo balanceado,
eu sou um amontoado de células a suavizar-lhe o ardor?
Saberá o rio que as suas límpidas águas, ao deslizarem para
a foz
levarão o eco da minha voz, por entre abismos e fráguas?
Saberão as ervas e as flores que, quando te aproximares
Do meu repouso solitário, se estabelecerão
regras-sem-regras,
Que nos atirarão para o renascer das tristes serras?
Saberão os grandes pintores identificar as cores onde, de
mãos dadas,
iremos dormir junto ao odor das rubras rosas perfumadas?
Naturezas vivas, eu e tu não queremos ficar parados junto
das
naturezas mortas, queimadas, tão doridas das feridas da
vida…
Esses são quadros mortos, expostos ao longo dos corredores
que o tempo vai empoeirando, e a quem rouba as belas cores…
Saberá o mundo que nós fugimos das dores e vivemos nos
astros
que nos cedem luzes e cores, confidentes dos nossos ardores?
Ah…”Aquela triste e leda madrugada…”…
Ela viu a dor com que nos separámos, até que a Lua nos
iluminou
o caminho para nos reencontrarmos…
Saberá o mundo , o mar, as serras, as águas paradas e a
deslizar,
que é nossa a poesia com que nos fitamos? a boca com que nos
beijamos?
o calor com que nos abraçamos e o amor que-ambos-nos-damos?
SET/018
Maria Elisa Ribeiro
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