terça-feira, 26 de setembro de 2017

POEMA meu(OBRA REGª)




















Poema :

QUANDO A PROSA ME INVADE A POESIA

( A prosa da vida-em-poema)

Pensei perdurar-te em mim ao gravar meu nome ao lado do teu, no tronco robusto das árvores do adro, recheadas de tons das “Avé- Maria” que o sino cantava em toda a harmonia, no vale, ao fim do longo dia de trabalho. Mas a imortalidade, se existe, é apenas para os mágicos seres de um deus, que não sei onde está. Na parede cor de cal da igreja paroquial, na inocência dos dias que estariam para vir, gravei, em obsessão morta-viva o teu perdurar-em-mim, numa palavra que te denunciava o nome.

Depois, as palavras foram crescendo ao ritmo dos dias que foram-vindo, e vi que te ia guardando nas reticências dos pontos de exclamação, que fui soltando no silêncio de Mim-Comigo em grandes pontos de interrogação. Ergui-te na minha vida como pó de ouro refulgente-ofuscante, em palavras do tamanho do sol a perder-se no horizonte. O horizonte, no entanto, deixa de se ver ao cair da noite dos firmamentos, que se confundem com o riso dos ventos, que saltam do mar para a terra e desta para o ar.

Caíram, de velhos, os troncos da árvore centenária, que ia vivendo na solidão do adro da igreja paroquial…Morta a grandiosa fonte de sombra dos pesados dias de calor, desapareceram os ramos e as folhas e com eles, o nosso nome, que tínhamos gravado no majestoso tronco com toda a destreza do nosso ardor. Persiste a Terra onde Fomos-Sendo a continuação dos tempos, a renovar e a reviver.

Hoje, quereria abraçar-te com a força de um ramo que se entrelaça, vigorosamente, aos ramos que estão no seu derredor, como que a cobri-los de amor…Quereria olhar-te, para ver se teus olhos ainda guardam escritas neles, as palavras com que te amei. Minha prosa da vida-em-poema recorda a sagrada identidade do que Fui-em-Ti, sem máscaras vazias de promessas, aniquiladas pelas interrogações subjacentes ao Termos-Sido…

Continuo a subverter as personagens dos mitos e sou Eurydice à procura de um Orpheu rebelde que, eu sei!-não poderei encontrar, pois no tronco da velha árvore ficaram inscritos só o teu nome e o meu…

Maria Elisa Ribeiro
AGOSTO/015

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