quinta-feira, 17 de setembro de 2015

Artigo de opinião, no "Público"

Por

 

Bagão Félix, Francisco Louçã e Ricardo Cabral

Francisco Louçã

17 de Setembro de 2015, 12:Tudo Menos Economia
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Por
Francisco Louçã


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Faltou um primeiro-ministro


Portugal precisa de recuperar emprego e corrigir desigualdades. Passos e Costa responderam por Portugal? Disseram o que tinham para oferecer e é pouco. Jogaram à defesa sobre o que interessa e ao ataque sobre o que conta menos.

Prometem 200 mil empregos e nenhum ouvinte ficou com a menor ideia de como lá chegam. No momento fúnebre em que se esforçaram por matar o debate, enredaram-se sobre as contas da Câmara de Lisboa, como se fosse uma jura pessoal. E quando ligaram o piloto automático caíram na língua de pau: para Passos, “resolvemos a bancarrota” (com empobrecimento), para Costa é o “ir além da troika” (como se a austeridade não impusesse sempre continuar a escavar para sair do buraco, no dizer de um político deste século). Acreditarão que alguém acredita que Portugal está safo ou que com a troika a austeridade amansava no primeiro ano? Ou, pior, que esse passado vai ser determinante na escolha dos deputados e do primeiro-ministro?

Se estiverem enganados neste cálculo, é porque olham mais para o partido do que para Portugal.

Ponto forte de Passos: a Europa está comigo e os socialistas europeus apoiaram a política do meu governo. Lembra que o PS aprovou o Tratado Orçamental e que vai cumpri-lo per saecula saeculorum. E que a “leitura inteligente” é uma fábula. Ponto fraco: não tem nada a dizer sobre a solução dos problemas. E quando esboça uma alternativa, explica que a defende por ter pouco efeito (a aventura do plafonamento é justificada por haver poucos jovens que ganham 3 mil euros no primeiro salário!).

Costa, que esteve mais convicto na declaração aos jornalistas do que no debate, tem um ponto forte: o que Passos fez no governo. Sabe os números, é afirmativo, e até repetiu a novidade, tem uma “equipa renovada” mas discorda de Mário Centeno sobre o contrato de trabalho. Pontos fracos: não se compromete sobre escalões no IRS, não se percebe para que quer o “despedimento conciliatório” e tem segredos estranhos na segurança social. Um deles foi revelado por Catarina Martins, o congelamento reduz o valor das pensões em 1660 milhões. Outro foi o momento da atrapalhação de hoje: a redução por Costa das prestações sociais não contributivas em 1000 milhões não pode ser garantida só pela condição de recursos. Costa terá que cortar em complementos sociais para alcançar esse valor. E a coisa não é pequena, é um afastamento da orientação histórica de uma segurança social redistributiva.

Costa oferece então obediência à Europa e um pouco de dinheiro para as pessoas. Passos não oferece nada porque está tudo no rumo certo. Respondem então a Portugal? Faltou um primeiro-ministro neste debate.
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