quarta-feira, 25 de março de 2009

"VIAGEM" COMIGO... NA NOITE...







À minha frente, um canal...
Águas quase paradas, neste anoitecer sereno dum dia de Abril...
O dia, fogoso, obrigou-me a procurar a sombra frondosa de uma árvore, ali no jardim, em frente à varanda do quarto do hotel, onde estarei por dois dias.
Esta é uma viagem ocasional, como muitas que se fazem na vida...de surpresa.
Estamos cá... Existimos, existindo, para além de qualquer previsão...
E se na verdade "O homem é o futuro do homem", nada mais correcto do que esta atitude de expectativa.
Luzes na cidade, na fronteira entre o sonho e a realidade,indicam-me um caminho a seguir...
Em cima da ponte que liga as margens do canal, decido-me por uma diferente tomada de posição:no ancoradouro, tiro o bilhete para uma pequena viagem de barco, durante a qual vejo o mundo a viver, do modo que se vive nas margens dos rios ou dos canais, numa cidade como esta.
São poucos os passageiros...Estou longe do bulício, da azáfama do dia-a -dia, das vidas que me rodeiam.
De repente, através da janela, vejo, ao longe, um monte de luzes sumptuosas, diferentes, quase irreais, reflectidas nas águas do grande fio de água!
E, no canto onde me encolhia, alguém, reparando no meu silêncio estupefacto, ante a profusão de claridade, quase mística, que o suave deslizar do barco permitia, disse-me, gentilmente:
-"É o Palácio de Santo Estêvão... é difícil não o ver , todos os dias, como se fosse ,sempre! a primeira vez..."
Nunca cá esteve, pois não?"
Tentei ,educadamente,(até porque não me apetecia entabular conversação!) responder, dizendo:
-"É verdade...nunca tinha visto uma paisagem nocturna tão, assustadoramente imponente...Agradeço a amável informação...Penso que é preciso voltar cá de dia...A vida, o mundo, surpreende-nos, a todo o momento!"
Volto-me, novamente, para o palácio. Imagino grandiosidades d'outras eras... Quase apetece saltar para o meio daquela "estrada" iluminada e percorrer caminhos de mim...O lento torpor da navegação encontrou-me na meditação...O faustuoso palácio lá ficou, pomposo e sereno, a aguçar a imaginação, no esplendor dos candeeiros de cristal, reflectido no canal..
Era luz dos tempos que eu absorvia, à medida da fantasia e do mistério do momento.
Ao voltar da minha pequena viagem," encontrei" outros portos, outros ancoradouros por onde se perderam outros portugueses, d'outros tempos...e vi-me, como eles, em hora de tristes despedidas...
Da varanda do meu quarto, antes de adormecer, ao sabor do último cigarro, saudei as estrelas que me davam a mão, numa luz de cumplicidade...

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