sexta-feira, 20 de março de 2009

"MEDITAÇÃO ( II)


É sempre a mesma, a hora da "descoberta". O único tesouro, objecto da minha cobiça, é o da minha Verdade.

Aqui, na minha sala de tudo, rodeada de livros, tantos dos quais ainda não consegui ler, encontro-me com os meus singelos quadros. As brancas paredes falam-me do cheiro da minha aura, nelas.

À minha frente, o computador, ao qual me liga a permanente vontade de escrever.

Passo os olhos em redor, como sempre na constante da "interrogação"; a luz difusa lembra a minha vontade de me reconciliar com o que não tive, ainda, tempo de ser...

A janela dá para a varanda, de onde me espreitam as plantas que amo, doces companheiras da minha vida, que são vida e reflectem energias, que me atingem. Têm uma aura de magnitude que me fascina, porque as trato com o amor que se dá, aos nossos seres queridos. Falo com elas! Dou-lhes, de presente, a música que eu própria oiço... E ,-maravilha das maravilhas!-sinto-as vibrar com retoques de VIVALDI, dançando com alegria aos acordes de CHOPIN! Mas murcham um pouco, ao ouvirem o som dos canhões da irrompente "ABERTURA 1812", de TCHAIKOWSKY...

Metem medo, os canhões, pois representam a animalidade do terror, que o Homem soube espalhar pela Terra...Eles são o ódio, na Terra!

Depois, falo-lhes, acaricio as folhas, acalmo-as...e vivo. Algumas que eu julgava serem só verdes, têm dado flor! Há lá coisa mais linda que ver acontecer a Vida, junto a nós...Vida engrandece a Vida!


E estou a reler a obra de Laurence Rees "Auschwitz"... Este livro não me sai da mente... Voltei a ele, há cerca de mês e meio;s into que tenho cada vez mais dificuldade em avançar, porque tenho dificuldade em me concentrar , no rever o horror...É então que me questiono sobre a existência ou sobre a verdade de um Deus superior, que possa ter permitido as atrocidades perpetradas por seres, ditos humanos, contra outros seres humanos.
"Vejo" a noite escura da Verdade dura. Sinto que, através das páginas deste livro, me "FALAM" as paredes de AUSCHWITZ e oiço as vozes de lamento dos milhões de sacrificados, nos fornos, nas fossas cavadas na floresta, um pouco por toda a Europa, ali ao pé...
Ao encontrar-me comigo, nestas dúvidas que me assolam e sufocam, sou tentada a responder a essas vozes de queixa, que tudo farei para que isso não volte a acontecer, no mundo. De fugida, no entanto, vejo a Croácia, o Iraque, Bush e Ramsfeld, Mugabe e o Zimbabwé, Pol Pot e o seu Cambodja...
Recosto-me nesta cadeira e fecho os olhos...Não mia o gato...não cantam os canários...
O Mundo dorme...e eu penso...
E as minhas paredes, brancas e vivas de Mim, compreendem o meu torpor...pedem-me que vá para o quarto, aqui ao lado...
Gosto de chegar a este momento do dia; tornou-se um hábito saudável, um vício, este "ver-me" quando o meu mundo dorme... Posso tocar na energia que exalo, porque vivo!
Mas "encontro-me" também com aquilo que, de mau, foi marcando o meu discernir, no espaço que me rodeia. Encontro Nero, o -louco-sádico-imperador romano; Nefertiti, rainha dum Egipto distante, submerso pelas areias do deserto da História...DE bom, encontro Fernando Pessoa, o meu poeta, o tal que diz:"Sentir? Sinta quem lê!", pois que "tudo o que penso ou medito, fica sempre pela metade..." Encontro, ainda, quase, quase...Vasco da Gama! a sofrer a morte das ilusões das "INDIAS"...
Os olhos dizem-me que são horas de viajar pelo sonho...

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