PROSA POÉTICA
QUANDO A PROSA ME INVADE
A POESIA…
Penso que há lugares
diferentes nos nossos corações onde podemos encontrar um espaço para voltar a
dançar, pois que a música atravessa os tempos em sementes de flores azuis no pó
dos caminhos andados, com a força das orações inocentes dos meninos.
Gostos da palavra
“azul”, das ideias azuis, porque me ficam na memória da língua, a saber a tinta
da cor do céu. Adoro “semente”, porque me sabe a vida, a rejuvenescimento, ao
trigo a desabrochar, no cumprir-a- criação
.
Amo as margens do rio
onde, deitada na relva macia, olho o céu e oiço os feitiços da natureza que
flutuam, livres como borboletas sedentas de néctares, cor, luz e amor.
(ALBERTO CAEIRO MEU
MESTRE -DE-VIVER!)
Enfeitiçam-me, na
memória, os laçarotes brancos que prendia os cabelitos loiros como um trigal, a
adornar os sonhos cor de magia de cada dia e que, num “flash” de tempo, iria
perder…
No fundo da objectiva
com que revejo o Passado, encontro a infância, que deu tal salto na vida, que
me sinto um estranho lugar neste Presente-de-um-Futuro-tão
provável-quanto-improvável, da tessitura do tempo.
Ao ouvido, sussurram-me
todas as sensações que ordenam o espaço molecular do mistério percorrido…Fui
vivendo as gerações ao som de um ciciar permanente de quem é humano, de quem é
“PESSOA”, que não se desliga dos sons do vento a tocar CHOPIN nas ramas das
árvores, que oscilam perto das flores a emergir, como notas de
sinfonia-a-sorrir.
.
Não pára a vida
interior…Os sentimentos brotam como orvalho que rebenta, ao deslizar pela folha
de uma planta, que a não aguenta.
Há coisas mágicas…são a
minha noese…só eu as sei …Então, faço de conta que sou POETA e invento uma
“criação”…Teço os meus noemas à boleia das palavras de que o meu conhecimento
dispõe e sinto-me um tecelão de ideias, que coso numa manta de retalhos a que
chamo “a minha doce canção”…Poeta-tecelão! Hábil como pássaro que guarda na sua
genética o segredo da construção do ninho, semente de uma verdade, única e
inconfundível, que resulta de uma luta metafísica, invencível mas tão
vulnerável, como as notas de uma canção.
Uma semente de trigo não
se confunde com outra, de milho, por exemplo! Em cada uma há um brilho
inconfundível, que vive na escuridão-a-pensar no melhor modo de dar pão…
(SINTO-TE CANTAR
-DE-DOR, FLORBELA, ÁVIDA DE AMOR!)
Há coisas mágicas,
dizia, que nasceram para permanecerem inteiras e que não podemos observar por
partes, senão desaparecem… escorrem pela genética do nosso
mistério-sempre-a-SER.
Respeito, amando-os, os
meus sonhos velhos, que se Foram.Hoje, posso dar-me ao luxo de estar feliz por
tê-los sonhado-a-crescer, porque vivi! Eles estabeleceram pontes de contacto
com o presente, de tal modo que a Poesia permite à Prosa que, impunemente,
invada o seu território expressivo, sem EU -DEIXAR-DE -SER-EU.
(“A nortada encheu de
ilhas o horizonte
olhando bem nenhuma é
verdadeira
mas cada uma em mim tem
porto e monte
que eu sou homem que vê
de outra maneira.”
Vitorino Nemésio)
Ao entardecer, o
horizonte enche-se de sombras vermelhas de um amarelo-dourado. No Silêncio,
parecem um coro de violinos que se derramou no dia, com as horas-Todas
nas minhas mãos.
Amo a Poesia que sai
desta imagem e reflecte a minha pessoalidade, sem abafar a música que
engrandece as sinfonias de todos nós… de cada um de nós… quando elevamos o
cálice para um brinde de grandeza.
Um suave perfume de óleo
de jasmim entrou-me no corpo…E dizia, assim:
“ FUI AO JARDIM DA
CELESTE/
GIROFLÉ, GIROFLÁ/
FUI AO JARDIM DA
CELESTE/
GIROFLÉ, FLÉ, FLÁ…”
Os poros cantam ainda… O
jardim continua LÁ… A dança mudou…
A Vida está onde está e
eu continuo a cantar enganos e desenganos…poema atrás de poema…texto atrás de
texto-no-contexto-místico-do-que-sou…
… passado no Presente,
nas flores que vivem morrendo-a-desabrochar…nas pegadas deixadas no areal de
SOPHIA, que o mar levou para as ondas de ANTIOQUIA …nos caminhos
percorridos-a-percorrer que,
dentro de mim,
sinto que
Continuam-a-SER…
“ …GIROFLÉ- GIROFLÁ/
…GIROFLÉ-FLÉ-FLÁ…”
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©Maria Elisa Ribeiro
MEALHADA, 9 de JULHO de
2013
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