POEMA: TREPADEIRA
TREPADEIRA
Tenho mundos a haver...
Tenho chaves desses mundos, para recolher…
No corredor das memórias, guardei tantas cinzas de ti, escondidas…
Não levaste contigo os primórdios dos tempos…a doçura dos meus tormentos
guardados num corpo sedento…
Forçoso é, que a minha poesia saiba a verdade das brisas e que procure a Raíz,
mesmo que por estradas ínvias de imprecisos momentos.
A génese telúrica fala…mas não consigo ouvir a voz da Terra.
(…ruas carregadas do ruído do monóxido de carbono nos passos gastos
sem matriz…)
Uso asas de voar com as quais me envolvo
como véu de cetim…um reino de Camelot…um círculo sagrado
num aro de marfim…
…Guinevere… borboleta de sangue em espadas coloridas,
nas veredas de aguerridas lendas…
Trepo as águas de um lago de amor.
O vento tem lábios e boca, sôfregos, a baterem-me na face rosada.
Uma árvore ramosa, verde, airosa, desfolha os beijos que dou
na tua boca. Marota…
Devolve-me os hálitos-ardentes-quentes-magma-vulcão-em-combustão…
Ela sabe das ravinas-outras-em-que-te-perdes…
Um odor de rosa viva, impulsiva, penetra as profundidades
dos beijos que me correm, ardentes, pelas veias…
Meu penhasco de sabor é cintilante como a luz do luar-
-que-falta-em-Noite-abundante…
Por dentro do fim do dia, está o respirar das montanhas a roçar-me a pele
de árvore-em-adoração- das- sílabas- dos- pássaros
que sonham poesia…
O ribeiro, sinuoso galho húmido do bosque, salta por entre as brisas
e cai no lago sereno, correndo para a maresia…
Florescem névoas dentro das flores-de-lótus.
Reverdejam plantas sem nome no óculo da mata, onde pairam cisnes
místicos iluminados pela lua feiticeira.
Há cópulas de pássaros nas cúpulas das catedrais…
…há letras que se emaranham nas páginas dos jornais…
…há canções que só o cérebro ouve, na noite encharcada de ais…
Não leves contigo os tempos das trepadeiras ansiosas pelo céu!
É que não sei se morrem elas ou se morri eu…
Uma luz amadurece no remanso das manhãs.
Vem da noite que deixaste derramada em esperanças vãs!
Uma nova trepadeira cheia de vida e de palavras desejosas de melodia
agarrou-se, gentia, à janela do meu poema…
…afaguei-a com mãos de luz, que escorriam tinta da música das palavras…
Fiz nela um hino ao amor, escondido entre a sombra e a luz -da-espera-por-ti.
Tonterias de nativa do universo…
Como se pode fazer um poema, quando nos falta a matéria – prima do verso?
E meu corpo desliza no licor-que-escorre-por-mim…
…terna bebida da terra envolta em fogo
no ar do mar , revolto, a chamar..
Como podes deixar a noite, se a madrugada não chegou ainda?
Como pedra , vais rolando…
…como árvore,vais secando…
…como barco, no meio das marés-da-ausência-fulcral-da-humanidade,
vais naufragando…
Há um véu de opaco ,no meu âmago.
Não te deixo prender o tempo…
Preciso dele na minha trepadeira em flor, meu amor!
Maria Elisa Ribeiro-PORTUGAL
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