Henrique Galvão
Henrique Galvão | |
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Nascimento | 4 de fevereiro de 1895 Lisboa |
Morte | 25 de junho de 1970 (75 anos) São Paulo |
Cidadania | Portugal |
Ocupação | oficial, escritor, político |
Prêmios |
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Obras destacadas | História do nosso tempo: João de Almeida, sua obra e acção |
Henrique Carlos da Mata Galvão ou Henrique Carlos Malta Galvão [nota 1] GOC • GCL (Barreiro, Barreiro, 4 de fevereiro de 1895 – São Paulo, 25 de junho de 1970) foi um oficial do exército, inspetor da administração colonial portuguesa e escritor português.
Ficou mundialmente famoso, em 1961, por ter organizado e comandado o assalto ao paquete Santa Maria, numa tentativa de provocar uma crise política contra o regime de Salazar.
Era irmão de Madalena Patacho, conhecida pelos seus programas infantis na rádio.[1][2]
Biografia
Nasceu a 4 de fevereiro e foi batizado a 10 de junho de 1895 na freguesia do Barreiro, concelho do Barreiro, como filho de Celestino Alberto Salgueiro Galvão, ferroviário dos Caminhos de Ferro do Sul, natural de Palmela, e de Maria Vitória de Brito Malta, natural de Montemor-o-Novo.[3]
A 5 de junho de 1919, casou civilmente em Lisboa com Maria de Lurdes Lucena Rosa, então de 19 anos, doméstica, natural de Lisboa (freguesia de Santos-o-Velho), filha de Manuel Augusto Gomes Rosa e de Mariana Lucena, naturais de Lisboa (freguesia de São Paulo).[4]
Henrique Galvão desde cedo seguiu a carreira militar. Foi um dos apoiantes de Sidónio Pais. Foi administrador do concelho de Montemor-o-Novo. Participou na revolução de 28 de maio de 1926 e foi um fervoroso apoiante do Estado Novo até se desiludir com o regime salazarista.
Foi Comissário-Geral da Exposição Colonial Portuguesa, realizada no Porto, em 1934. Nesse mesmo ano foi nomeado como primeiro director da Emissora Nacional e, a 1 de agosto, agraciado com o grau de Grande-Oficial da Ordem Militar de Cristo.[5] Mais tarde, esteve em África, onde organizou acções de propaganda. Foi governador de Huíla. Angola inspirou-lhe a veia literária, tendo escrito uma série de livros brilhantes sobre a vida nas colónias africanas, a sua antropologia e zoologia. Também sobressaiu como diretor da revista Portugal Colonial (1931-1937)[6] e artigos que escreveu em outros periódicos nomeadamente no órgão oficial do Integralismo lusitano a Nação Portuguesa.[7]
Galvão foi eleito deputado à Assembleia Nacional por Moçambique, em 1945. Teve a oportunidade de verificar as condições desumanas em que os nativos das colónias, sujeitos ao Estatuto do Indigenato, se encontravam, sendo obrigados a trabalhos forçados, não remunerados. A sua "Exposição do Deputado Henrique Galvão à comissão de Colónias da Assembleia Nacional" foi apresentada em 22 de Janeiro de 1947, e veio a ser a principal razão para o seu rompimento com o Estado Novo.[8] Galvão sustentava que "o trabalho forçado ou "contratado" era a norma, as condições de vida miseráveis, a corrupção entre as autoridades generalizada", chegando mesmo a dizer que os escravos eram melhor tratados que os trabalhadores forçados, já que aos primeiros, sendo sua propriedade, o dono se esforçava por manter vivos e com saúde, enquanto que os segundos, se morriam de fome ou exaustão, eram substituídos por mais trabalhadores "recrutados" pelo Estado."[9]
Como protesto pelo facto de o regime ter ignorado as reivindicações que pretendia para melhorar as condições de vida dos nativos das colónias, passou para a Oposição Democrática. No início da década de 50, começou a conspirar com outros militares, mas acabou por ser descoberto, preso e expulso do exército. Apoiou a candidatura presidencial do general Humberto Delgado em 1958, cuja ideia Galvão disse ter sido sua. Em 1959, encontrando-se detido no Hospital de Santa Maria e vigiado de dia e de noite por um agente da PIDE, conseguiu fugir e refugiar-se na embaixada da Argentina, de onde partiu para o exílio no Brasil e depois na Venezuela. Henrique Galvão era, com Humberto Delgado, a principal figura dos meios oposicionistas não afectos ao Partido Comunista Português. Para o Partido Comunista, Portugal ainda não estava pronto para a revolução, enquanto Galvão achava que não havia tempo a perder. Foi durante o exílio que começou a preparar aquela que seria a sua acção mais espectacular: o desvio do paquete português Santa Maria, cheio de passageiros, a que deu o nome de "Operação Dulcineia". Coordenou esta acção com Humberto Delgado, que se encontrava exilado no Brasil.
O Caso do "Santa Maria"
O navio escolhido foi o paquete "Santa Maria", que tinha largado em 9 de janeiro de 1961 para uma viagem regular até Miami. Galvão embarcou clandestinamente no navio, em Curaçao, Antilhas Holandesas. A bordo já se encontravam os 20 elementos da Direcção Revolucionária Ibérica de Libertação, grupo que assumiria a responsabilidade pelo assalto. O navio levava cerca de 612 passageiros, muitos norte-americanos, e 350 tripulantes. A operação começou na madrugada de 22 de janeiro, com a ocupação da ponte de comando. Um dos oficiais de bordo, o 3º piloto João José Nascimento Costa, ofereceu resistência e foi morto a tiro pelo comando espanhol, e outras duas pessoas foram feridas com gravidade;[10] os restantes renderam-se. O paquete mudou de rumo e partiu em direcção a África. Henrique Galvão queria dirigir-se à ilha espanhola de Fernando Pó, no golfo da Guiné, e a partir daí atacar Luanda, que seria o ponto de partida para o derrube dos governos de Lisboa e Madrid. Um plano megalómano e quixotesco, condenado ao fracasso, mas que chamaria as atenções internacionais para a ditadura salazarista.
As coisas começaram a complicar-se quando o navio foi avistado por um cargueiro dinamarquês, que avisou a guarda costeira americana. Daí até à chegada dos navios de guerra foi um ápice. Vendo que tudo estava perdido, Henrique Galvão decidiu rumar ao Recife e render-se às autoridades brasileiras, pedindo asilo político, que foi aceite.[nota 2]
Henrique Galvão morreu em São Paulo, em 25 de junho de 1970, com a doença de Alzheimer.[3]
A 7 de novembro de 1991 foi agraciado a título póstumo com a grã-cruz da Ordem da Liberdade.[5
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