quarta-feira, 21 de junho de 2023

Poema: ALBAS DA INOCÊNCIA





 

ALBAS  DA  INOCÊNCIA

 

 

Sonolenta de emoção, eis que acordo na névoa dos teus braços,

quando me tocas a mão.

_________________O vento sopra, assobiando o perfume do teu nome

_________________na luz das sombras da lareira, que crepita, lentamente.

 

Despidos de mantos-do-pudor,

 foi de pétalas rubras que nos cobrimos

em lençóis de linho, que ciciavam cantigas -brancas-de-amor.

_________________Nossos corpos trocavam de perfume

_________________enquanto a ânsia de viver se despedia da infância,

________________ a desaparecer.

 

Em cima da mesa, num canto de silêncio,

um ramo de rosas adormeceu. sem querer.

 

Com a saudade encostada a teu peito,

 a música mágica das tuas veias

afundava-se na minha madrugada,

 ao toque do alvorecer.

Mais eloquente do que a palavras-mudas, o céu cobriu-se de nuvens

e  escondeu as estrelas luminosas…

______________o mar repousou, distante das nebulosas, sem o saber…

______________a montanha protegeu as árvores dos ventos belicosos

______________que as forçavam a gemer…

______________as papoilas desapareceram no ondular do trigo-a-abrir…

 

E eu, muda também no meu-poema-de-mim, falei-te

numa linguagem de pedra-viva, com olhos semi-cerrados

cheios de versos sem fim…de neve desfeita no calor do vôo das aves…de água das pernas de um rio coberto de folhas nervosas, que abriram fontes no jardim de nossas artérias sinuosas…

 

As gotas da noite teimam em escorrer, por dentro da janela,

enquanto fecho meus olhos no coração dos teus.

 

Disseram, nas notícias, que um vulcão cedeu ao tempo-mudo

e  explodiu numa estranha arquitectura de silêncios …

 

… sinto  que meu corpo é, agora, o aqueduto sob o qual

as sílabas se tornam incandescências

em páginas geológicas,

numa orografia telúrica

 que provoca as albas da inocência…

 

 

Maria Elisa Ribeiro

Registado ©DEZ/017

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