quarta-feira, 30 de outubro de 2019

Carta de Teresa a Simão, em "Amor de Perdição"-in aesc.edu.pt:
A vida era bela, era, Simão, se a tivéssemos como tu ma
pintavas nas tuas cartas, que li há pouco! Estou vendo a casinha
que tu descrevias defronte de Coimbra, cercada de árvores,
flores e aves. A tua imaginação passeava comigo às margens do
Mondego, à hora pensativa do escurecer. Estrelava-se o céu, e a
Lua abrilhantava a água. Eu respondia com a mudez do coração
ao teu silêncio, e, animada por teu sorriso, inclinava a face ao
teu seio, como se fosse ao de minha mãe. Tudo isto li nas tuas
cartas; e parece que cessa o despedaçar da agonia enquanto a
alma se está recordando. Noutra carta, me falavas em triunfos e
glórias e imortalidade do teu nome. Também eu ia após da tua
aspiração, ou adiante dela, porque o maior quinhão dos teus
prazeres de espírito queria eu que fosse meu. Era criança há
três anos, Simão, e já entendia os teus anelos de glória, e
imaginava-os realizados como obra minha, se tu me dizias,
como disseste muitas vezes, que não serias nada sem o
estimulo do meu amor.
Ó Simão, de que céu tão lindo caímos! A hora que te escrevo, tu
estás para entrar na nau dos degredados, e eu na sepultura.
Que importa morrer, se não podemos jamais ter nesta vida a
nossa esperança de há três anos? Poderias tu com a
desesperança e com a vida, Simão? Eu não podia. Os instantes
do dormir eram os escassos benefícios que Deus me concedia;

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