sexta-feira, 16 de fevereiro de 2018

4 h perto de Mealhada 
POEMA:
(QUANDO A PROSA ME INVADE A POESIA)
À SOMBRA DAS ÁRVORES QUE DÃO PALAVRAS

Sentava-me debaixo das árvores, acalentada por sombras da vida, que o quintal, ternamente, abraçava. Falava comigo ao som dos ventos, que abanava as folhas enquanto um carreiro de formigas, atarefadas e diligentes, me passava rente aos pés que nada sentiam. Tantas vezes essas árvores me apareciam nos sonhos de quando dormia, acordada. Foi debaixo da sua sombra, que me encontrei a sonhar palavras feitas, desfeitas, entrelaçadas-em-mim.

Por vezes,
gostava que tudo fossem verdades expostas na nudez da vontade
com que as crio…e que elas me correspondessem
na urgência de um momento vazio…
Dariam, então, frutos amadurecidos, na sombra e na luz
da alegria, reforçados pela vida-a-abrir, ao nascer do dia.
Talvez fosse por aí que começaram a aparecer sonhos, que só mais longe-no-tempo compreendi. O hálito do tempo, esse sopro que se não vê, mas que se sente ao passar sob o nosso olhar, tem a sua pressa definida nas rugas da pele da vida a chegar.

A casa dorme…
…dorme o velho corredor, salpicado de molduras antepassadas…
…dorme o quintal, a abraçar a doçura dos frutos-palavras
que brilham com a sua luz,
sem nada invejar a outras luzes.
O vento varre- me o pensamento, sem Passado, sem Futuro (mesmo sem Presente!) a sair do seu trilho habitual sem ver a dimensão das coisas, sejam elas enormes como uma catedral, ou minúsculas como aquela formiga, que me vai passando perto dos pés.

Há nuvens nos ares………meus olhos têm chuva……..a noite cai, de repente,
como pestana que se solta
e cai numa árvore distante…
ou será que uma pétala vermelha seca, quando já
não tem o abrigo da luz das estrelas?

Sentava-me, então, debaixo da sombra das árvores que me davam palavras...
Sento-me, hoje, debaixo do sol dos meus versos…
…e o vento da noite gira no céu e canta,
porque a poesia nunca desaparece nem descansa!

Maria Elisa Ribeiro
DEZ/014

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