"As minhas palavras têm memórias
____________das palavras com que me penso, e é sempre tenso
_________o momento do mistério inquietante de me escrever"
quarta-feira, 28 de fevereiro de 2018
De Fernando Pessoa...
Chove ? Nenhuma Chuva Cai... Chove? Nenhuma chuva cai... Então onde é que eu sinto um dia Em que ruído da chuva atrai A minha inútil agonia ?
Onde é que chove, que eu o ouço? Onde é que é triste, ó claro céu? Eu quero sorrir-te, e não posso, Ó céu azul, chamar-te meu...
E o escuro ruído da chuva É constante em meu pensamento. Meu ser é a invisível curva Traçada pelo som do vento...
E eis que ante o sol e o azul do dia, Como se a hora me estorvasse, Eu sofro... E a luz e a sua alegria Cai aos meus pés como um disfarce.
Ah, na minha alma sempre chove. Há sempre escuro dentro de mim. Se escuro, alguém dentro de mim ouve A chuva, como a voz de um fim...
Os céus da tua face, e os derradeiros Tons do poente segredam nas arcadas...
No claustro sequestrando a lucidez Um espasmo apagado em ódio à ânsia Põe dias de ilhas vistas do convés
No meu cansaço perdido entre os gelos, E a cor do outono é um funeral de apelos Pela estrada da minha dissonância...
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