"As minhas palavras têm memórias ____________das palavras com que me penso, e é sempre tenso _________o momento do mistério inquietante de me escrever"
sábado, 1 de novembro de 2014
No fim, se ficarem só dois, será Israel e a América
por LEONÍDIO PAULO FERREIRAHoje1 comentário
Um responsável americano terá chamado "cobarde" ao primeiro-ministro israelita e a Casa Branca teve de apressar-se a pedir desculpas. Depois, foi o próprio secretário de Estado John Kerry a descrever como "vergonhoso, inaceitável e danoso" o comentário sobre Benjamin Netanyahu, segundo o Jerusalem Post. Há uns meses tinha sido o mesmo Kerry a fustigar Israel por o ministro da Defesa, Moshe Yalom, tê-lo apelidado de "messiânico" e ainda acusado de fraqueza a Administração liderada por Barack Obama. Significa isto que Estados Unidos e Israel estão em rota de colisão? Que a relação especial velha de décadas está ameaçada?
Basta notar que uma vez mais, este ano, a ajuda americana a Israel ultrapassará os três mil milhões de dólares para se ter a certeza que não. Nenhum país recebeu até hoje mais dinheiro dos Estados Unidos que Israel, e quase todo destinado aos militares, prova de que a América vê no país o seu mais sólido aliado no Médio Oriente. Mais confiável até do que a Turquia, membro da NATO, ou a Arábia Saudita, parceira desde a década de 1930, quando os Saud negociaram a proteção americana em troca de abundância de petróleo no mercado.
"O primeiro-ministro Benjamin Netanyahu afirmou estar sob ataque de críticos "anónimos" simplesmente porque defende Israel e os seus interesses de segurança nacional, mas salientou "acarinhar" a aliança de Israel com os Estados Unidos apesar das divergências", pode ler-se no Haaretz. Em causa um artigo na revista The Atlantic em que um alto responsável americano acusa o dirigente israelita de pensar só na sua sobrevivência política. A coberto do anonimato, a mesma figura diz que "a única coisa boa em Netanyahu é que tem medo de iniciar guerras" e acrescenta que este "não é um Rabin, não é um Sharon e certamente não é um Begin", tudo referências a antigos primeiros-ministros israelitas com currículo de general vitorioso.
Por um lado, a América critica Israel por insistir em construir mais colonatos judaicos na Cisjordânia e impedir assim avanços no processo de paz com os palestinianos. Por outro, Israel receia ver os Estados Unidos a serem complacentes com o projeto nuclear iraniano agora que a prioridade no Médio Oriente parece ser o combate ao Estado Islâmico, o grupo jihadista que controla vastas porções da Síria e do Iraque. Ambos têm razão. E se já se percebeu que entre Obama e Netanyahu o diálogo não é fácil - o próprio New York Times fala de "uma relação azeda"-, as suspeitas de quem é mais culpado da situação só podem recair sobre aquele a quem a imprensa israelita trata por Bibi. Na primeira passagem pelo governo, entre 1996 e 1999, também foi incapaz de criar cumplicidade com Bill Clinton, destruindo o legado de entendimento entre israelitas e palestinianos que os americanos se tinham esforçado por construir com os Acordos de Oslo de 1993. Há dias, o Politico citava o ex-presidente Clinton a dizer que Netanyahu "não é homem para fazer a paz".
É mais complexa do que parece a relação entre americanos e israelitas e isto desde o início. Apesar de Harry Truman se ter antecipado em três dias a Estaline no reconhecimento do novo Estado em 1948, os Estados Unidos não foram de grande ajuda nesses primeiros tempos difíceis. Basta lembrar que foram armas da Checoslováquia que permitiram aos combatentes judeus resistirem aos exércitos árabes e que na década seguinte a assistência militar a Israel veio de França. Os americanos não hesitaram mesmo em unir-se aos soviéticos para o ultimato a israelitas, franceses e britânicos em 1956 quando tentavam impedir que o canal de Suez passasse para controlo do Egito.
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