terça-feira, 23 de setembro de 2014

Mau tempo, em Portugal...


Chuva intensa deixa Lisboa meia submersa e faz seis desalojados na Lourinhã


ANA FERNANDES e ANDREIA SANCHES

22/09/2014 - 10:39

(actualizado às 08:16 de 23/09/2014)


A última grande chuvada deste Verão — o Outono chegou hoje às 3h29 — deixou Lisboa debaixo de água, parou o trânsito no centro da cidade e causou danos. Na ressaca, trocaram-se acusações. Tempo só melhora na quarta-feira.





Chuva inundou casas e garagens
MIGUEL MADEIRA/ARQUIVO













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Logo ao início da tarde de ontem, boa parte de Lisboa ligou-se ao Tejo. Entre as 13h e as 15h, choveu copiosamente, alcançando os 18,7 milímetros na Gago Coutinho. Às 15h15, deu-se a preia-mar, já a circulação não se fazia na Baixa e a linha azul do Metro tinha parado. Mas o susto chegou já a meio da tarde, quando um muro de suporte de terras do Colégio D. Maria Pia, na Rua Madre Deus, em Lisboa, ruiu e se pensou que havia crianças desaparecidas. Não houve vítimas, mas não faltaram acusações: a Câmara de Lisboa acusou o Instituto Português do Mar e da Atmosfera (IPMA) de não ter avisado sobre o que aí vinha e o PSD da autarquia lançou críticas à gestão camarária.

Apesar do caos no centro da cidade, foi da Madre Deus que, às 16h30, veio a maior preocupação. Um muro caiu e inicialmente havia suspeitas de estarem desaparecidas três crianças, segundo o Regimento de Sapadores dos Bombeiros de Lisboa.

“Era um muro bastante alto que suporta as terras de um campo de jogos. A chuva provocou a derrocada de uma parte do muro e chamámos a Protecção Civil e os bombeiros. Já foi feita uma contagem, estão todos os alunos”, disse ao PÚBLICO Eduardo Vilaça, vice-presidente da Casa Pia de Lisboa, a que pertence o Centro de Educação e Desenvolvimento de D. Maria Pia, frequentado por 600 crianças e jovens.

Foi chamada a Unidade Cinotécnica do Regimento de Sapadores Bombeiros de Lisboa e os cães permitiram às autoridades ter a certeza de que ninguém tinha sido atingido.

O muro fica no interior do colégio. “Toda a zona será isolada e vamos fazer o reforço da segurança interna para garantir que ali não vai passar ninguém”, afirmou ainda Eduardo Vilaça. O estabelecimento deverá, contudo, continuar a funcionar.

Antes disso, e a partir das 13h30, em boa parte da cidade caía um dilúvio. O Regimento Sapadores Bombeiros de Lisboa (RSB) registou 121 ocorrências entre as 14h e as 16h, devido às inundações.

A linha azul do Metropolitano esteve com perturbações na circulação desde as 14h18 até às 15h45, devido a uma inundação causada pela forte chuva, e o trânsito na Praça dos Restauradores foi desviado devido às inundações registadas na zona da Baixa, principalmente no Rossio.

De acordo com os bombeiros, as inundações verificaram-se ainda na Rua República da Bolívia e na Rua Carolina Michaelis de Vasconcelos, em Benfica, na Calçada de Carriche (Santa Clara), na Rua Prof. Pulido Valente (Lumiar), na Rua de Alcântara (Alcântara) e na Calçada de Palma de Baixo e na Rua Tomás da Fonseca (São Domingos de Benfica) e na Rua Visconde de Seabra (Alvalade).

Entre a Calçada da Palma de Baixo e a Estrada das Laranjeiras, na zona de São Domingos de Benfica, uma testemunha disse que a água naquela zona deveria alcançar cerca de meio metro de altura. A mesma fonte, além de notar a interrupção da circulação automóvel, testemunhou que um peão atravessava a estrada com a água pelos joelhos.

A circulação era feita com dificuldade no Largo das Fontainhas, em Alcântara, Praça de Espanha e Calçada de Carriche devido a “lençóis de água”. No eixo Norte-Sul, a PSP reportou haver, também, dificuldades de circulação devido à chuva.

Face a esta situação — muita precipitação condensada em pouco tempo e coincidindo com a subida da maré no Tejo, o que prejudicou a drenagem —, o vereador da Protecção Civil da Câmara de Lisboa acusou o Instituto Português do Mar e da Atmosfera (IPMA) de não ter previsto tanta chuva, acrescentando que a cidade teve de se preparar “à última hora”.

“Houve uma grande precipitação. As informações que nós tínhamos do IPMA não iam nesse sentido, portanto a cidade teve de se prevenir à última hora, uma vez que não tinha sido lançado aviso laranja para o distrito de Lisboa”, disse Carlos Castro.

De acordo com o IPMA, o valor de precipitação mais elevado foi registado na estação meteorológica na Gago Coutinho, em Lisboa, com uma precipitação de 18,7 milímetros (correspondente à queda de 18,7 litros por metro quadrado) e caíram 13,2 milímetros nas Amoreiras. Estes valores, de acordo com o IPMA, “enquadram-se no limiar do aviso meteorológico amarelo”.

Por seu lado, o vereador do PSD na Câmara de Lisboa António Prôa anunciou que vai pedir responsabilidades, na reunião do executivo de amanhã, sobre as inundações. Apesar de admitir que “choveu bastante”, o vereador considerou que “não foi uma tromba-d’água à antiga” e estas inundações “só se suscitam porque, à semelhança do que aconteceu com a recolha do lixo, a câmara não calculou bem as consequências da transferência de competências” para as juntas de freguesia na qual perdeu muitos trabalhadores. “A câmara não adequou os seus serviços para fazer face à prevenção desta situação, como a desobstrução de sumidouros”, acrescentou. O vereador lamentou, ainda, que o plano de drenagem do município esteja há sete anos por concretizar.

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