CANTO A CHORAR
Dizem que chorei quando nasci.
Agora, canto para abafar as dores
E afastar os, mais que naturais, cansaços demolidores.
Canto deslizando a voz chorosa como as águas do rio,
E como as ondas do mar, que me querem levar. Canto,
Porque estou tão triste que,
Se me alegro, não sei
deixar de chorar. Estende-se meu sangue
Com uma voz poderosa, pela solidez da terra que nos ouve
existir.
Na sua sólida harmonia ,pedem-me as ondas do mar, que cante
As rotas de viajar,as riquezas achadas, as ilhas sonhadas e todas
as belezas
não encontradas.
E eu canto...
Canto os batéis a despejarem bens nos naufrágios e nas
areias dunais...
As canelas, as pimentas, os damascos-pano, os corais, os
jasmins...e que mais?
Canto para afogar a dor de saber que os valentes nem sempre
Tornaram ao cais de partida...
Aos lenços de acenar o adeus à casa da lareira acesa, onde ,quente,
Esperava a pobre-riqueza do jantar.
Mesquinho formigar do Homem-do-Mundo
Que nada compreende
Do profundo canto da Cigarra do calor!
...e canto mais ainda o perfume do orvalho que me beija
Ao alvorecer,
depois de ter fechado
a noite sob as minhas pálpebras.
Canta o mundo a acordar os insectos, as ramas dos arbustos,
As oliveiras e as árvores de fruto.
Sento-me à mesa a tomar o café e canto o sabor...
...Só com as flores, nem me lembro de empalidecer...
©Maria Elisa Ribeiro
Direitos reservados
DEZ/2020
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