"A DEMOCRACIA DIVORCIADA
Desfazem-se as últimas ilusões, e numa decepção amarga para todos aqueles que se deixam engodar pelas frases de efeito de uma propaganda tão pintada de vermelho que até parece lambuzada no sangue rubro das grandes revoluções, caem as verdadeiras máscaras, rompem-se todos os véus de mistificação que aos olhos ingénuos do povo trabalhador encobrem, sob os ouropéis e lantejoilas cascalhantes de uma retórica populaceira e demolidora, o velho estafermo, embusteiro e estúpido, autoritário e opressor da Democracia, com os seus chavões pomposos e gastos da Soberania do povo, do Sufrágio Universal e com as suas pastilhas da Liberdade, Igualdade e Fraternidade, os suavíssimos rebuçados com que logo no começo do século XIX o militarismo napoleónico andou pela Europa, a ferro e a fogo, a curar as cataneiras dos povos oprimidos.
As últimas ilusões caem, varadas pela coercividade do Estado, o excesso de autoridade, a imposição pela força, o proibir de pensar…. Tem de ser: é inevitável e é lógico.
Não pode dar coisa boa, o que evita e poupa, na sua forma expressiva e sintética, todas as demonstrações sociológicas, todas as argumentações históricas, que, sem deitar as prateleiras abaixo, numa erudição fácil e corriqueira, vêm a talho de foice, com o seu cortejo de espadeiradas da tropa e com a supuração dos fleimões despóticos dos ministérios.
Na sua bruta crueldade de baptismo, a floração necessária e natural do arbusto que o povo, na sua eterna e lendária ingenuidade, com entusiasmo e dando o corpo ao manifesto, plantou. É inevitável e é lógico: mais dia menos dia iria acontecer.
E se alguma coisa há a estranhar, se alguma coisa tem de imprevisto, é simplesmente ter vindo talvez um pouco cedo demais, talvez um pouco antes de tempo, pondo, assim, fecho de tragédia à curta e efémera lua-de-mel entre o povo e a Democracia, que, estridulamente, se encontra finda quando um pouco de inteligência e de decoro por banda dos governantes seria o suficiente para a libertar.
Na farsa eleitoral que se prepara, não serão os proletários nem actores nem comparsas, no cartaz e nos programas do espectáculo todos os papeis e todas as rábulas pertencem ao monopólio do patronato e do sindicato.
E a razão é simples: no Terreiro do Paço bateram-se Homens; agora neste palco vão cabriolar histriões. É inevitável e é lógico.
A Democracia, com o seu estado-maior de grandes estadistas sem ideias, de grandes reformadores sem reformas, de grandes diplomatas sem agrément, com os seus batalhões de burocratas e de adesivos, com as espingardas dos soldados, com a força das autoridades, mais polivalentes do que agentes, com a autoridade do capital, renega uma a uma, dia a dia, momento a momento, todas as promessas vagas, indefinidas, com que, anos a fio, nas tábuas dos comícios e nas mesas das conferências, vai-se martelando até levar ao rubro do 25 de Abril a ânsia de reivindicação e da planificação, o espírito de revolta, a fome de Justiça, a sede de Verdade, que vibra e se agita nos cidadãos. É inevitável e é lógico.
A Democracia-Revolução tem de ser a Democracia-Governo: e se a revolução para triunfar teve de dar ao povo a liberdade, o Governo para se manter tem de dar ao povo coerção. Nestes termos, todo e qualquer Governo é opressão, toda a opressão se mantém pela força e pelas violências.
Simplesmente, o povo que se sacrifica, que se bate, que dá o sangue das suas veias, a vida dos seus filhos, para os revolucionários governantes, que juram morrer a seu lado, conseguirem ser os governantes da república, o povo, vê que lhe empapam no sangue dos seus irmãos que reclamam pão, os derradeiros lampejos de uma realidade enevoada e triste, o povo, que para defender a República é ainda capaz de mais sacrifícios, que saberá lutar.
Não nos equivoquemos. Não se deve desvirtuar princípios e de emaranhar ideias, para na confusão estender a rede em águas turvas, à pesca de novas desilusões, de novos desenganos.
Na barafunda da luta demolidora em que durante anos todos nós, portugueses, andamos mais ou menos empenhados, uns combatendo pelo ideal, outros fazendo pela vida, não se distinguem bandeiras e a minoria burguesa, fazendo o seu jogo escudada no proletariado, nas ruas, nos comícios nos protestos da praça pública, não há dúvida que pelo caminho largo do Futuro todos marchamos, ontem, em busca do amanhã.
É fatal e é lógico!"
As últimas ilusões caem, varadas pela coercividade do Estado, o excesso de autoridade, a imposição pela força, o proibir de pensar…. Tem de ser: é inevitável e é lógico.
Não pode dar coisa boa, o que evita e poupa, na sua forma expressiva e sintética, todas as demonstrações sociológicas, todas as argumentações históricas, que, sem deitar as prateleiras abaixo, numa erudição fácil e corriqueira, vêm a talho de foice, com o seu cortejo de espadeiradas da tropa e com a supuração dos fleimões despóticos dos ministérios.
Na sua bruta crueldade de baptismo, a floração necessária e natural do arbusto que o povo, na sua eterna e lendária ingenuidade, com entusiasmo e dando o corpo ao manifesto, plantou. É inevitável e é lógico: mais dia menos dia iria acontecer.
E se alguma coisa há a estranhar, se alguma coisa tem de imprevisto, é simplesmente ter vindo talvez um pouco cedo demais, talvez um pouco antes de tempo, pondo, assim, fecho de tragédia à curta e efémera lua-de-mel entre o povo e a Democracia, que, estridulamente, se encontra finda quando um pouco de inteligência e de decoro por banda dos governantes seria o suficiente para a libertar.
Na farsa eleitoral que se prepara, não serão os proletários nem actores nem comparsas, no cartaz e nos programas do espectáculo todos os papeis e todas as rábulas pertencem ao monopólio do patronato e do sindicato.
E a razão é simples: no Terreiro do Paço bateram-se Homens; agora neste palco vão cabriolar histriões. É inevitável e é lógico.
A Democracia, com o seu estado-maior de grandes estadistas sem ideias, de grandes reformadores sem reformas, de grandes diplomatas sem agrément, com os seus batalhões de burocratas e de adesivos, com as espingardas dos soldados, com a força das autoridades, mais polivalentes do que agentes, com a autoridade do capital, renega uma a uma, dia a dia, momento a momento, todas as promessas vagas, indefinidas, com que, anos a fio, nas tábuas dos comícios e nas mesas das conferências, vai-se martelando até levar ao rubro do 25 de Abril a ânsia de reivindicação e da planificação, o espírito de revolta, a fome de Justiça, a sede de Verdade, que vibra e se agita nos cidadãos. É inevitável e é lógico.
A Democracia-Revolução tem de ser a Democracia-Governo: e se a revolução para triunfar teve de dar ao povo a liberdade, o Governo para se manter tem de dar ao povo coerção. Nestes termos, todo e qualquer Governo é opressão, toda a opressão se mantém pela força e pelas violências.
Simplesmente, o povo que se sacrifica, que se bate, que dá o sangue das suas veias, a vida dos seus filhos, para os revolucionários governantes, que juram morrer a seu lado, conseguirem ser os governantes da república, o povo, vê que lhe empapam no sangue dos seus irmãos que reclamam pão, os derradeiros lampejos de uma realidade enevoada e triste, o povo, que para defender a República é ainda capaz de mais sacrifícios, que saberá lutar.
Não nos equivoquemos. Não se deve desvirtuar princípios e de emaranhar ideias, para na confusão estender a rede em águas turvas, à pesca de novas desilusões, de novos desenganos.
Na barafunda da luta demolidora em que durante anos todos nós, portugueses, andamos mais ou menos empenhados, uns combatendo pelo ideal, outros fazendo pela vida, não se distinguem bandeiras e a minoria burguesa, fazendo o seu jogo escudada no proletariado, nas ruas, nos comícios nos protestos da praça pública, não há dúvida que pelo caminho largo do Futuro todos marchamos, ontem, em busca do amanhã.
É fatal e é lógico!"
José António Bragança
17/08/2019
17/08/2019
Sem comentários:
Enviar um comentário